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O mito do investimento público

*Ricardo Buso

          Atualmente vivemos em uma sociedade voltada para o sucesso profissional, para os grandes negócios, para certa vaidade em alardear façanhas rodeadas de termos técnicos, principalmente do economês, e até de muitas falácias, onde a certeza não é o mais forte. Que na iniciativa privada isso ocorra não é novidade alguma, mas o setor público também vem nadando de braçadas nesse cenário, principalmente quando o assunto é investimentos.

            Para alinhar conceitos, superficialmente podemos definir investimento como aquele recurso financeiro que deixamos de contar para aplicá-lo (dirigi-lo) em algo que, ao longo do tempo, retornará o montante inicial aplicado acrescido de uma vantagem financeira, que pode ser juros, economia de gastos ou mesmo bem-estar, sempre devidamente mensurável.

            Ocorre que vem sendo muito comum aos governantes que buscam ganhar tudo “no gogó”, ou mostrar competência onde não existe, classificar qualquer gasto ou despesa como investimento público. Investimento nisso, naquilo, naquele outro, etc.

            Não adianta dizer que está “investindo”, por exemplo, na modernização do mobiliário do Gabinete do Chefe do Executivo ou na reforma da fachada de um prédio público, quando sabemos que não há retorno nisso para a população ou para a máquina pública. Isso é despesa, pois não haverá o retorno sequer do principal gasto.

            Por outro lado, podemos citar como exemplo de investimento público a substituição da tubulação no fornecimento de água (quando este é feito pelo Poder Público), onde podemos avaliar que em “tantos” anos o investimento se pagará pela economia na água que seria desperdiçada. Após pago o investimento, viria sim o chamado lucro para a população, vez que o dinheiro poupado é público.

            Nesses exemplos, o mais importante a notar é a devida mensuração do retorno, que deve ser prévia ao investimento e, sobretudo, monitorada e cobrada periodicamente. A população não pode permitir um “chute” de um número fictício qualquer, que depois de executado, não atingindo o resultado esperado, fique por isso mesmo.

            Para essa prestação de contas e cobrança as audiências públicas ou os mais modernos instrumentos de Orçamento Democrático / Participativo são excelentes canais de interação da população com os governos.

            Outro ponto bastante discutido, o chamado investimento social, também precisa de análise detalhada para averiguar se tratamos de investimento ou mera despesa. Reitero que o investimento, mesmo social, precisa de mensuração do retorno, que é o melhor deles, para ser caracterizado como tal.

            Creio ainda que, desde que devidamente suportável e sustentável ao longo dos tempos, não é nenhum pecado o Poder Público incorrer em gastos ou despesas, pois fazem parte de suas funções corriqueiras. O que não se admite é a transformação disso em balela eleitoreira de investimentos de fachada.       

            Por fim, a devida classificação dessas saídas de recursos públicos é importante para avaliar o desempenho do gestor e, principalmente, para colaborar com as tão necessárias diretrizes de disciplina fiscal.

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2 COMENTÁRIOS

  1. Quem investe em infraestrutura de verdade, aquela que vai benenficiar o povo de forma universal e perpetura, não conseque ter a opinião publica favoravel, isto é o reconhecimento de fato e de direito, caso não faça propaganda oficial e também extraoficial. Quem diz apenas as verdades sobre os fatos não é levado a sério, não transmite credibilidade para a maioria. Talvez porque a maoria vive plugada no noticiário sensacionalista e, apaixona-se por aquilo que agrada aos ouvidos e bolsos. Parte da imprensa formadora da opinão pública nacional é cooptada pela propaganda oficial e, para continuar sendo a escolhida pelos mandatários de plantão, tratam de fazer tudo e mais um pouco para agradá-los. Os mandantes querem a qualquer preço preservar o poder, aí entra o pulo do gato. É mais facil comprar votos antecipados, via propaganda enganosa do que inestir em infraestruta de fato e convencer a maioria dos eleitores que isso é bom para todos. Tá bom.

    • Prezado Jorge:

      Concordo com seu ponto de vista.
      Mas, o lado bom que vejo é que isso está começando a mudar.
      Aqui no Brasil em um ritmo aquém do ideal, mas, principalmente nos países mais desenvolvidos, envolvidos na atual crise, já notamos a população ciente de que a farra fiscal de hoje refletirá nos seus bolsos amanhã.
      E a conscientização vem ganhando força.
      Acredito que o movimento, aos poucos, “contaminará” o Brasil.
      Vamos torcer.

      Obrigado pelo comentário.

      Abraço,

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