Início Artigos Quem se acomoda, fracassa!

Quem se acomoda, fracassa!

No parágrafo 33 da última ata do COPOM (Comitê de Política Monetária, do Banco Central) lê-se que “cumpriu-se a meta de inflação pelo oitavo ano consecutivo”.

Não é verdade: se a meta de inflação é de 4,5% ao ano (diga-se de passagem, muito elevada…), o escore dos últimos oito anos é medíocre. Em dois anos, a meta foi atingida; em um ano, o valor da inflação ficou abaixo da meta; em cinco anos, a inflação ficou acima da meta. Em números, a média da inflação – no período – foi de 5,43%. Ou seja, quase 25% a mais do que era esperado!

Desconsiderar o primeiro ano do mandato de Lula da Silva também parece equivocado. Naquele ano (2003), a inflação foi de 9,3%.

Olhando para os números de economia, com frieza, constatamos que o crescimento econômico médio, nos anos de governo petista, foi de 4%. Se lembramos que a população brasileira cresceu a um ritmo de 2% ao ano, teremos um crescimento real médio de aproximadamente 2%, para o Brasil. Isso é menos do que cresceu o Japão, menos do que cresceu a União Europeia e quase metade do que cresceram os EUA.

Com inflação alta e crescimento baixo, o Brasil perdeu espaço para Rússia, Índia, China e África do Sul. Em crescimento, o Brasil ficou atrás dos países da América Latina (os que interessam: claro que Cuba ou Haiti estão fora desse tipo de análise…).

O Brasil tornou-se, na última década, um mercado relevante. Temos a sexta maior economia mundial, pelo critério de Produto Interno Bruto, somos o quarto maior produtor planetário de automóveis, recebemos grande fluxo de investimentos estrangeiros. Geramos muitos empregos e conseguimos tirar uma parte importante de nossa população da miséria extrema. Esses dados são muito bons, mas não podem gerar acomodação.

E a acomodação se estabeleceu na esfera governamental. O Brasil precisa aproveitar a potencialidade de seu imenso mercado de consumo para viabilizar a ampliação da produção doméstica; precisa gerar centros de pesquisa e desenvolvimento tecnológico (como fazíamos, por exemplo, na década de 1970); precisa criar empregos de melhor qualidade.

Os números, que embalam o conformismo governamental, são tranquilizadores: os investimentos externos chegam a ultrapassar uma dezena de bilhões de dólares em alguns meses do ano; o PIB cresceu 10% nos últimos três anos. Mas há números que prenunciam pesadelos: nosso déficit comercial de produtos industrializados, em 2012, ultrapassará US$ 100 bilhões; nosso crescimento industrial será, se tudo correr bem, zero!

O governo Dilma Rousseff acomodou-se ao fato de que o crescimento chinês obriga à compra de minérios e de alimentos brasileiros. Acomodou-se à estabilidade econômica construída com as bases fincadas pelo Plano Real: metas de inflação, superávit primário, acerto das dívidas de estados e municípios e câmbio flutuante.

Acomodação que começa a custar caro: o Brasil transforma-se em um derivativo da economia chinesa, a inflação está ficando muito alta; os altos gastos públicos e de custeio estão secando os investimentos; o superávit é construído à custa de enorme carga tributária; há um afrouxamento em relação ao endividamento dos estados.

Até 2011, o Brasil conseguiu crescer amparado no lastro do que foi construído pelo Plano Real. Mas para crescer daqui para adiante precisamos de um novo salto gerencial e tecnológico. Não há sinais de que Dilma Rousseff esteja urdindo esse salto.

Ney Vilela – Coordenador regional do Instituto Teotônio Vilela

 

Artigo anteriorGoverno libera mais de R$ 16 milhões para obras de infraestrutura em Arujá
Próximo artigoNúcleo Sindical