Brasília – A promessa do Governo Federal de levar água às regiões castigadas pela seca no Nordeste pode estar indo para o ralo. Com orçamento inicial de R$ 4,6 bilhões, a Transposição do Rio São Francisco deve consumir R$ 8,2 bilhões em recursos públicos, um aumento de quase 80% em relação ao custo inicial. Uma das principais bandeiras de campanha do ex-presidente Lula e de Dilma Rousseff, a obra deveria ficar pronta este ano, beneficiando 12 milhões de pessoas, mas a previsão mais otimista para a conclusão foi empurrada para 2015.
A Transposição faz parte do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e está dividida em 14 lotes, nos estados de Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará. Segundo reportagens publicadas pela Folha de São Paulo nos últimos meses, cinco trechos estão paralisados e, em alguns casos, como no lote 5, no Ceará, as atividades ainda não começaram. Em outros, os trabalhos foram interrompidos por causa da suspeita de corrupção envolvendo a construtora Delta, alvo da CPI do Cachoeira e principal empresa do PAC.
Os constantes atrasos foram constatados também por uma comissão de parlamentares da oposição em abril, durante visita a um dos trechos na região do Cariri, no Ceará. Para o líder do PSDB na Câmara, Bruno Araújo, o problema evidencia falta de planejamento, incompetência e negligência por parte do governo do PT. “Encontramos obras paradas e a população sem perspectiva de emprego. Isso significa muito mais do que uma promessa de campanha não cumprida. Significa mexer com a esperança de milhões de nordestinos que tiveram sua expectativa frustrada”, ressalta.
Além do atraso, auditoria feita pelo Tribunal de Contas da União (TCU) apontou que alguns produtos foram comprados por preços até 143% superiores aos praticados pelo mercado. O órgão verificou também restrições à concorrência.
Estiagem
A lentidão ocorre no momento em que a região volta a sofrer as consequências de uma grave estiagem. Levantamento da Secretaria Nacional de Defesa Civil mostra que 1.033 cidades, quase 60% dos municípios da região, já foram atingidas pela estiagem este ano.
“Eu tinha aqui um hectare de terra, onde plantava caju, maracujá, feijão. Veio essa obra, desapropriaram minha propriedade, derrubaram tudo e nem quiseram esperar a colheita do caju. E nada da água que prometeram”, afirma o agricultor José Almir de Almeida, natural de Coité (CE).
Somente em Pernambuco, 96 municípios entraram em situação de emergência, e, em alguns casos, a seca interrompeu as aulas na rede pública, deixando mais de 50 mil alunos sem aula. A estiagem também afetou alunos em escolas do Rio Grande do Norte, Alagoas e Piauí. O mesmo ocorreu na Bahia, onde mais da metade das cidades entraram em situação de emergência.
Os reflexos da seca também são sentidos na agricultura. Segundo análise do Instituto Teotônio Vilela (ITV), a estiagem está dizimando a produção – a maior parte de subsistência – do Nordeste. Em Pernambuco, por exemplo, 95% das lavouras, principalmente de milho e feijão, já se perderam. Cerca de 100 mil produtores foram atingidos e 300 mil toneladas de alimentos deixaram de ser cultivados. Também o rebanho que somam seis milhões de cabeças, está ameaçado.
Do PSDB Nacional