A mais alta corte de Justiça brasileira concluiu ontem que o Partido dos Trabalhadores governou o país na base de votos comprados no Congresso. Os mesmos governantes que usaram este espúrio método de gestão estão agora rodando o Brasil em cima de palanques pedindo votos para seus correligionários. Como esperam obter a confiança da população com uma ficha corrida como esta?
A sessão de ontem no Supremo Tribunal Federal (STF) serviu para sepultar de vez a tese de que o dinheiro que o PT surrupiou dos cofres públicos teria sido usado para quitar compromissos de campanha. A maioria dos ministros foi taxativa: os recursos foram empregados para corromper parlamentares – novamente, a exceção foi, sempre ele, Ricardo Lewandowski. A verdadeira “farsa” que os petistas tentaram montar caiu por terra.
A meada da história vai se deslindando. Primeiro, o Supremo concluiu que os recursos do mensalão tiveram origem pública, como o Banco do Brasil e a Câmara dos Deputados. Depois, atestou que o PT tentou ludibriar a Justiça e os órgãos de fiscalização bancária, inventando operações financeiras fictícias, sustentadas por bancos camaradas que funcionavam como lavanderias de dinheiro.
O passo seguinte foi concluído ontem com a comprovação de que toda a dinheirama drenada dos cofres públicos pelo esquema criminoso do PT foi usada para comprar o voto de deputados no Congresso e assegurar que o governo de Luiz Inácio Lula da Silva tivesse base de sustentação suficiente para levar adiante seu projeto de poder. (Vale recordar que, no início de 2003, a coalisão de partidos que elegera o petista só lhe garantia 153 votos na Câmara.)
Coube ao ministro Celso de Mello, no voto que proferiu ontem, dar os contornos definitivos do que se passou na República nos anos iniciais do governo do PT – e que só cessou porque um dos beneficiários, sem conseguir embolsar tudo o que queria, resolveu dar com a língua nos dentes e pôs fim à festa.
“Este processo criminal revela a face sombria daqueles que, no controle do aparelho de Estado, transformaram a cultura da transgressão em prática ordinária e desonesta de poder, como se o exercício das instituições da República pudesse ser degradado a uma função de mera satisfação instrumental de interesses governamentais ou desígnios pessoais”, afirmou o decano do Supremo, onde está desde 1989.
Pois esta mesma gente que “transformou a cultura da transgressão em prática ordinária e desonesta de poder” quer o voto dos brasileiros para continuar transformando o Estado brasileiro em mero mecanismo de “satisfação instrumental de interesses governamentais e desígnios pessoais”.
Posto de outra forma: quem o Supremo condenou ontem por práticas espúrias pretende, daqui a cinco dias, obter o voto dos eleitores para continuar usando o poder para se locupletar, para satisfazer suas vontades pessoais e para perpetuar este nefasto esquema no país. Como podem ter tanta cara de pau?
O beneficiário maior do mensalão foi Lula, o mesmo que agora roda o país para cobrar dos eleitores que chancelem seus apadrinhados nas urnas. Aquele que acha que seus caprichos têm de ser cegamente obedecidos pelos brasileiros, principalmente os mais pobres, que manipula sem dó nem piedade.
O mais degradante é que, neste périplo, que antecede seu ocaso, Lula agora também leva a tiracolo a presidente da República. Dilma Rousseff resolveu meter o bico onde sequer tem voto e onde as ações de seu governo são praticamente inexpressivas: o que dizer da parca ajuda federal, por exemplo, à expansão das redes de metrô de São Paulo e de Belo Horizonte, dois dos destinos da caravana eleitoral petista?
À visão petista, que enxerga o Brasil como um pote de ouro a ser pilhado, dentro da mais repugnante tradição patrimonialista, contrapõe-se a visão libertadora e humanista. Os eleitores são soberanos e, em seu sagrado, inviolável e intransferível direito de escolher seus governantes, saberão ver que quem já lhe fez tanto mal não merece seu voto.
Fonte: Instituto Teotônio Vilela