Quase metade das usinas licitadas no primeiro leilão de energia eólica do Brasil está pronta, mas não gera um único megawatt (MW) de eletricidade. Dados da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) mostram que 32 dos 71 parques eólicos leiloados em 2009 estão parados por causa da falta de linhas de transmissão. A informação é do jornal “O Estado de S. Paulo”. Para o deputado Walter Feldman (SP), o motivo é claro: falta de investimento e de planejamento e incapacidade operacional para evitar novos apagões. Na avaliação dele, o governo federal não tem dado a devida atenção ao sistema energético, deixando o setor à deriva.
A Companhia Hidro Elétrica do São Francisco (Chesf), estatal do Grupo Eletrobrás, venceu o leilão das linhas de transmissão, mas não concluiu nenhum projeto – em alguns casos, nem iniciou as obras. Pelas regras do contrato, o sistema de transmissão teria de ser concluído na mesma data dos parques eólicos para permitir o início dos testes. Mas, na melhor das hipóteses, a conexão com as usinas apenas se dará em julho do ano que vem.
“A imprensa vem mostrando a crise no setor e as dificuldades que o governo federal tem tido para evitar apagões”, apontou Feldman nesta segunda-feira (1º). Segundo o tucano, falta um sistema operacional eficiente que responda aos problemas da rede já existente. Ele classifica de “estarrecedora” a existência de usinas eólicas que não funcionam por conta da falta de linhas de transmissão.
“Isso comprova a falta de planejamento de um governo que tem na sua presidência alguém que já foi ministra de Minas e Energia. Portanto, teria minimamente as informações e dados suficientes para impedir que isso acontecesse”, ressaltou. “É uma crise energética exatamente no momento em que temos que responder à competitividade internacional, que não é possível sem um sistema energético eficiente, equilibrado e progressivo”, completou.
De acordo com o deputado, a falta dos parques eólicos ajuda a aumentar o risco de apagões. E lamenta: quem vai pagar a conta pelo atraso das obras de transmissão é o consumidor brasileiro. “Já estamos pagando a conta. Muitas empresas não vêm ao Brasil porque sabem que temos dificuldade exatamente nessa área. É uma área que está abandonada”, concluiu.
Poucos dias após a revelação de que a Eletrobrás investiu apenas a quinta parte dos recursos para investimentos neste ano, o Estadão faz uma nova denúncia. As aplicações da estatal atingiram, no primeiro semestre, R$ 2,1 bilhões, valor que corresponde a somente 20,8% do orçamento disponível para o ano (R$ 10,3 bilhões). Trata-se da pior execução orçamentária em termos percentuais desde o ano 2000. A informação é do site “Contas Abertas”.
Usinas paradas
→ Segundo o coordenador de Implantação em Campo da Renova, em Caetité, Roberto Lopes, o mais complicado na construção foi a logística. Todos os equipamentos usados na montagem dos 14 parques eólicos foram fabricados fora da região.
→ Pelas regras do edital de licitação, as geradoras que concluíram os parques eólicos até 1º de julho deste ano têm direito a receber uma receita fixa prevista no contrato. No total, são 32 usinas prontas e paradas em todo o Brasil, que somam R$ 370 milhões de receitas a receber. Ou seja, o consumidor terá de pagar por uma energia que não está sendo produzida porque a Chesf nem começou a fazer a sua obrigação.
→ A Aneel entende que a estatal tem de ser responsabilizada pelo atraso na entrega de três sistemas de transmissão, que incluem as subestações e as linhas. São elas: Acaraú II, Igaporã e João Câmara. Até agora, a Aneel já emitiu três autos de infração contra a estatal, no valor de R$ 10,9 milhões.
Do PSDB na Câmara