Azarão na disputa pela candidatura tucana a prefeito de São Paulo e único dos aspirantes a não ter cargo no Executivo estadual, o deputado federal Ricardo Tripoli é também o único declaradamente ambientalista dentre os candidatos tucanos. Hoje com 59 anos, ele já foi vereador, deputado estadual e secretário estadual do Meio Ambiente, durante a gestão de Mário Covas. Autor do Código Estadual de Proteção Animal, foi responsável pelo projeto Pomar, de arborização das margens do Rio Tietê. “A agenda ambiental sofreu muito preconceito. Hoje, é uma pauta essencial. O paulistano quer qualidade de vida”, disse Tripoli, em entrevista à jornalista Teresa Perosa.
Quais são suas chances de ganhar as prévias?Numa disputa, o mais importante é concorrer. O fato de ocorrerem prévias já é um avanço enorme dentro do partido, porque as demais legendas não estão fazendo isso. O que eu posso emprestar para o cidadão são 30 anos de vida pública e uma agenda ambiental para cidade. Hoje, não diria que algum dos pré-candidatos se destaque – os quatro têm condições de serem homenageados pelos filiados. Quem interagir melhor com o filiado, demonstrar mais intimidade com São Paulo e conhecimento sobre a cidade será o escolhido.
Muitos tucanos ainda sonham com uma candidatura do ex-governador José Serra. Isso pode ocorrer? Acho muito difícil e não vejo nenhuma expectativa nesse sentido. Fui o primeiro a levantar a questão das prévias. Em julho, protocolei 220 assinaturas dos delegados da capital, pedindo o pleito dentro do partido. Fui cumprimentado pelo presidente (nacional do PSDB) Sérgio Guerra. Da mesma maneira, procurei os líderes do partido, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, por exemplo, me estimulou muito.
Por que o senhor defendeu as prévias? O partido estava morrendo. Não tinha militância mobilizada – ela só se reunia em períodos de convenções. As primeiras reuniões que fizemos juntávamos cinco ou seis pessoas. Agora, reunimos cinquenta. O PSDB reacendeu, voltou a ter vida. Não vejo como agora cancelar esse processo e frustrar a militância do partido. O clima avançou de tal forma que é irreversível o processo de prévias.
É possível que o PSDB ceda a cabeça de chapa, para fechar a aliança com o PSD do prefeito Gilberto Kassab? Eu pessoalmente não concordo com isso e o partido não aceita. E o motivo é simples: o PSDB já elegeu uma vez o prefeito de São Paulo, duas vezes o presidente da República e cinco vezes o governador do estado. Você não pode abrir mão de uma cabeça de chapa sendo um partido com mais de 20 anos, sedimentado, com programa, estatuto, ideias, propostas. E ainda mais ceder para um partido recém nascido. Nós temos interesse, sim, na coligação. Possuímos um programa para cidade e esperamos que outros partidos se agreguem a nossa proposta.
Como o senhor avalia a gestão Kassab? Há coisas boas e ruins. Alguns projetos me estimulam,como as ciclofaixas e a Lei Cidade Limpa. Mas algumas deixaram a desejar. Mas eu não teria tantas secretarias. Investiria nas subprefeituras e em projetos como o Poupatempo, um lugar o cidadão pode encontrar a maioria dos serviços públicos.
Sua principal bandeira é o meio ambiente. O que o senhor propõe nessa área? A cidade está muito carente de áreas verdes. Restaurar o verde é muito importante. As praças da cidade podem ser revigoradas. O paulistano precisa mais de qualidade de vida. Vou trabalhar para que o diesel vendido na cidade tenha seu índice de enxofre reduzido. É uma briga que temos com a Petrobrás há anos, eles assinaram um termo de conduta para diminuir esse índice e isso não é feito. Em períodos de inversão térmica, no inverno, em que você tem partículas em suspensão, a população inala essa poeira e sofre muito, principalmente as crianças e os idosos. Meu grande sonho é capitanear um processo de despoluição dos rios Tietê e Pinheiros. É preciso proporcionar às pessoas esse resgate da sua autoestima em relação a São Paulo.
Como criar novos espaços verdes e novos espaços de lazer numa cidade urbanizada e sedimentada como São Paulo? Existem lugares próprios do município ou próprios do estado que você pode converter em áreas verdes. No Parque da Juventude, antigo Carandiru, aconteceu isso. Da mesma forma, pode-se transformar outros prédios e espaços do município. É preciso criar mais áreas de lazer, locais dedicados a cultura e ao esporte, espaços em que você possa vivenciar a cidade de uma maneira diferente.
Teresa Perosa (foto: Eliária Andrade/Agência O Globo)