A última semana foi especialmente difícil para o PT.
Mais um tesoureiro petista foi preso e, demonstrando de novo a ausência de fronteiras entre o governo e o partido, surgiu outra séria denúncia de que agora até mesmo a CGU teria sido usada para atrasar investigações de interesse do país, porque poderiam ter criado constrangimentos para a campanha à reeleição da presidente Dilma Rousseff.
Também, mais uma vez, ministros de Estado se transformaram em porta-vozes do partido, e não do governo, ao fazer aquilo que o PT costuma fazer quando quer ignorar a realidade: investir na desinformação. No caso, na tentativa de relativizar as irregularidades cometidas pela administração federal apontadas por unanimidade pelo Tribunal de Contas da União (TCU).
Nenhum desses temas mereceu a devida atenção do ex-porta-voz do governo petista André Singer, ilustre colunista desta Folha, que preferiu dedicar a sua última coluna a criticar o que seria, na sua opinião, o meu posicionamento frente à tese do impeachment, que tem mobilizado corações e mentes por todo o país.
Nada mais natural que alguém tão ligado ao PT discorde das minhas posições, mas me surpreendeu a forma simplista com que fatos extremamente graves foram tratados.
Nos últimos tempos a ideia de impeachment ganhou forte impulso na sociedade.
No front do PT, a estratégia autoritária é clara: buscar qualquer argumento para tentar questionar a legitimidade da tese, interditar e desqualificar esse debate. Para isso estimulam o raciocínio segundo o qual impeachment é golpe, tentando constranger milhões de democratas indignados com o que está ocorrendo no país.
Nesse debate, em pontos extremos, de um lado está o PT tachando de golpistas os que cobram providências. De outro, estão aqueles que veem no impeachment um valor absoluto. Defendem a tese a priori e buscam no dia a dia argumentos para sustentá-la.
A verdade é que existe uma referência central que precisa nortear toda essa discussão: a do respeito à ordem democrática. Para ser solução legítima, o impeachment precisa ser o final de um caminho percorrido com rigor, respeito à realidade e à legalidade.
O papel das oposições neste momento é não se acovardar. É exigir investigações. É garantir as condições para que o debate democrático ocorra. E, nesse debate, sempre respeitando a Constituição, nenhuma palavra é proibida.
Amanhã, nossa memória histórica e coletiva visita os 30 anos da morte de Tancredo Neves. Um brasileiro que sempre defendeu o que é essencial: a democracia. E sempre teve coragem de fazer o que precisava ser feito. Eu nunca me esqueço disso.