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Os inimigos do Brasil

Por Miguel Haddad 

Em sua fala no Fórum Econômico de Davos deste ano, que está a transcorrer, a chanceler alemã Angela Merkel declarou que os maiores entraves na luta contra a pandemia em seu país deviam-se à burocracia e à falta de um serviço público de saúde eficiente.

No Brasil, a burocracia com certeza está entre as razões do nosso atraso no combate à covid-19. Mas quanto ao serviço público de saúde, podemos contar com o SUS, um dos mais bem aparelhados do mundo para campanhas de vacinação.

Todavia, a maior razão de estarmos entre os últimos países a iniciar a vacinação é o negacionismo, a irracionalidade de ir contra a Ciência. Isso já havia acontecido em 1904, por ocasião da chamada Revolta da Vacina. Nas décadas seguintes foram escritos livros a respeito desse movimento, atribuindo esse disparate à falta de conhecimento científico da época.

O que surpreendeu a todos foi ver o renascimento do mesmo espírito no século 21, após a sequência de fantásticas descobertas científicas que nos permitiram feitos antes inimagináveis. No início do século passado, se alguém dissesse que o homem iria à Lua ou que enviaríamos sondas à Marte, que a expectativa de vida iria aumentar continuamente, entre tantas outras conquistas, seria visto com total descrença.

Esse negacionismo tornou-se ainda mais nefasto com a sua politização. Hoje, o nosso País encontra-se profundamente dividido, de um jeito ruim, nocivo. Eis aí, me parece, a questão central que está atrasando o Brasil. Essa divisão permeada de ódio demonstra ser, de fato, o verdadeiro inimigo do Brasil.

Correntes políticas com visões opostas fazem parte da discussão nacional de qualquer país, em qualquer época. Não há nada mais natural. A polarização exacerbada, todavia, é um obstáculo ao avanço.

Todos têm direito a suas opiniões. Isso é sagrado. Não cabe discutir. Temos, na verdade, o dever de defender essa liberdade. No entanto, o que estamos a assistir beira o fanatismo, um mal maior, histórico, recorrente, que afeta o progresso da civilização.

Precisamos nos reconciliar. Ouvir o outro. Divergir, mas conservando a união em torno do interesse nacional. Esse é o requisito essencial na construção de um futuro que seja melhor para todos.

 

Miguel Haddad é ex-prefeito de Jundiaí e ex-deputado federal 

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