A tentativa de se forjar um dossiê contra José Serra, candidato do PSDB ao governo de São Paulo, para ligá-lo ao caso dos sanguessugas, rendeu um terremoto político ao PT. A contragosto, o presidente da República e candidato à reeleição, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), teve que falar disso na entrevista concedida a um telejornal da Rede Globo.
Dela se salvam algumas palavras.
A primeira é “insanidade”, termo que Lula usou para definir a conduta dos que articularam a operação. Ele também exprime, com grande precisão, o estado de confusão mental e moral dos que urdiram aquela trama.
Supor que instrumento tão tosco pudesse implodir uma candidatura que, desde o início da campanha, soma intenções de voto suficientes para vencer em primeiro turno, é coisa de quem perdeu – ou nunca teve – noção da realidade. Entristece constatar que lideranças petistas se deixaram seduzir por tão louca idéia a ponto de comprar gato por lebre.
Lula disse, aos jornalistas da Globo, que “mexer com bandido não dá certo”. Não dá mesmo! E o que mais espanta, na sórdida armação, é a desenvoltura de antigos arautos da ética na política, ao negociar com assaltantes confessos dos cofres públicos.
Os ex-moralistas não vacilaram em comprar, de pessoas notoriamente desonestas, papéis que nada mostram e se dispuseram a pagar alto preço por eles, usando dinheiro de origem não explicada. Não se queixem se a opinião pública tratá-los segundo a regra do “dize-me com quem andas e dir-te-ei quem és”.
Lula não disse – mas os brasileiros percebem de modo cada vez mais nítido – que a banalização da nauseante mistura entre política e banditismo resulta da sucessão de falcatruas impunes, ocorridas no governo por ele chefiado. Em todas, sem exceção, aos acusados não se impôs punição alguma. No máximo, cobrou-se, de alguns, uma demissão “a pedido” dos cargos que ocupavam.
O presidente e vários de seus auxiliares de maior confiança semearam condutas criminosas, irrigaram-nas com impunidade e adubaram-nas com insensibilidade moral. Não têm motivos para se mostrarem surpresos com a safra de insanidades que, agora, se vêem obrigados a colher.
Antonio Carlos Pannunzio é deputado federal, vice-líder do PSDB.
