Por Marco Vinholi
O PSDB foi fundado há 33 anos sob a égide da democratização, do pulsar das ruas e da construção de um novo momento para o país. A linha fundamental que uniu sociais-democratas, bem como liberais e democratas-cristãos, foi justamente esse valor democrático. Sob esse compromisso, o partido realiza, agora em 2021, o primeiro processo de prévias nacionais para a escolha interna de um candidato à Presidência da República do Brasil.
É fato que, ao longo do processo, as escolhas poderiam ter trilhado outros caminhos —a meu ver mais acertados, como a adoção de pesos iguais para todos os filiados e o voto por urna eletrônica. Temas que são, inclusive, defendidos pelo governador de São Paulo, João Doria, um dos postulantes das primárias desde o primeiro momento.
Contudo, nem por isso devemos nos esquivar do centro de uma questão fundamental: o partido exerce verdadeiramente a sua democracia interna, renova-se, e, neste momento da política brasileira, é o que existe de mais intenso.
Não é razoável que erros técnicos —como o inoperante aplicativo utilizado no último domingo (21), ou até mesmo excessos políticos produzidos pelo governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (outro postulante nessas prévias) e seus apoiadores na busca de uma narrativa irreal— sejam maiores do que o importante momento pelo qual a legenda passa.
Com toda a deferência que as outras agremiações partidárias merecem, o PSDB se diferencia no Brasil por defender as prévias internas, mesmo assumindo todos os desafios, riscos e dissabores inerentes ao processo. Tudo porque a legenda acredita que, por meio das primárias, faz valer seu DNA democrático. E, portanto, temos de cumprimentar a coragem e a persistência do jovem presidente da Executiva Nacional, o tucano Bruno Araújo.
O término da eleição interna, que irá sim acontecer até este domingo (28), não vai significar o fim do partido, contrariando o que diz Guilherme Boulos, que mais parece um emissário do caos em sua coluna nesta Folha (“PSDB: sem rumo nem aplicativo”, 22/11). Pelo contrário: é o começo de uma pré-candidatura forte do PSDB ao mais alto cargo da República Federativa do Brasil —e não tão somente como terceira via, mas como a melhor via para o país.
Não tenho a menor dúvida que João Doria, pela terceira vez legitimado pela militância como o nome do partido para representar essa via, vai unir o PSDB e construir com grande força um caminho político viável junto ao centro democrático.
Declarações de quinta, com contornos extremistas e acompanhadas da certeza de que os tucanos serão derrotados em 2022, como destacado no artigo por Boulos, não nos interessam. Aliás, ele poderia usar essa futurologia para si mesmo. Deixaria, ao menos, de perder.
*Publicado no jornal Folha de S. Paulo em 26/11/2021