O Brasil marcha rapidamente rumo ao subdesenvolvimento sustentável. Esse subdesenvolvimento é mostrado pelos principais indicadores nacionais: o baixo crescimento econômico dos últimos 25 anos; a queda de nossa competitividade, sobretudo nos setores de alto valor agregado; o passivo previdenciário que aumenta a passos firmes; a urbanização mal feita, tanto da infra-estrutura residencial e urbana, quanto dos valores comunitários; e a pouca importância que damos à nossa educação básica.
A sustentabilidade desse subdesenvolvimento é também evidenciada pelos valores políticos que cultuamos. Agarramos-nos à crença de que alguém ou algo é responsável pelo nosso insucesso e que alguém virá nos salvar. Acreditamos que tudo é possível se houver vontade política, temos a falsa esperança de que voltaremos a crescer a custos de fatores como no tempo dos nossos avós. Temos baixa percepção das conseqüências futuras de nossa imprevidência atual; temos uma irracional opção preferencial pelo acessório, pelo provisório e pela forma em vez de cultuarmos o principal, o estruturante e o conteúdo. Cultuamos a idéia de que o importante é o diploma e não o conhecimento.
Esses valores políticos se replicam a taxas geométricas nas administrações públicas, nos partidos políticos e até mesmo no Congresso Nacional. Exemplos não faltam: nossa fúria legiferante, os infinitos mutirões travestidos de medidas de impacto, nossos projetos contendo as palavras “mínimo”, “zero”, “bolsa”, “cota”. Em resumo, os atalhos, quebra-galhos, improvisações estão virando uma praga por todo o território nacional.
A cristalização desses valores se deve tanto ao populismo eficaz do atual governo, capitaneado pela carismática figura de seu líder, quanto à falta de alternativas apresentadas pelas oposições. Se nada fizermos, em breve devemos alcançar o “underdevelopment grade”.
O Brasil não é só isso. Devemos honrar a obra de nossos avós que desbravaram o País e o fizeram crescer mais que qualquer outro ao longo de boa parte do século XX. Eles enfrentaram com sucesso sua agenda de ruralização do Brasil. Adentraram o país com coragem e espírito empreendedor, construíram essa notável agropecuária que temos hoje e geraram excedentes para a nossa industrialização. Tal como eles o fizeram, devemos também enfrentar a nossa agenda.
Esse enfrentamento deve começar pela raiz, pelo nível político, cultural. Devemos derrubar um dos pilares desse subdesenvolvimento: “há alguém ou algo responsável pelo nosso insucesso e alguém virá nos salvar”. A derrubada desse pilar começa pela eliminação da tutela política. Tivemos a tutela do regime autoritário que se legitimava pela força bruta e pela tecnocracia. Após a queda da ditadura, acreditamos que a democracia representativa seria suficiente, mas o longo período de ditadura não extinguiu o hábito de se ter tutores, agora escolhidos pelo voto. Estamos tendo, agora, a tutela de um governo que se legitima pela semelhança: “vote em nós, que somos iguais a você. Por isso iremos efetivamente nos desenvolver como nunca na história deste país”.
Devemos romper essa tutela apresentando um programa claro, simples e direto. Para tanto, devemos compartilhar com todos os brasileiros o diagnóstico das razões do nosso subdesenvolvimento e o conseqüente prognóstico que propomos.
Nossa legitimidade deve basear-se no compartilhamento de problemas e soluções com a nossa gente. O povo brasileiro não necessita de tutela. Aliás, na “indústria” brasileira em que não há tutela de nosso povo somos os melhores do mundo: o futebol. Se utilizarmos a teoria de Michael Porter sobre as nossas vantagens competitivas internacionais no futebol veremos que vários fatores necessários a elas surgiram naturalmente de nosso povo: a saudável rivalidade, o prestígio nacional, o torcedor exigente, as escolinhas de futebol espalhadas por todo o País, a oportunidade de sucesso etc.
Tal como no futebol, devemos ter princípios claros e simples sobre competitividade e sucesso, acompanhados de regras do jogo também claras e simples. Isto propiciará que cada brasileiro decida, sem tutela, sobre as suas escolhas nas várias relações sociais: relações de produção, de consumo, de contribuição com os governos, de convivência urbana e eleitoral. Todo o poder ao povo. Todo o poder à Sua Excelência: o trabalhador, consumidor, contribuinte, cidadão e eleitor brasileiro.
Certamente há outras mudanças a serem feitas. Mas, em nível político, devemos eliminar o Salvador da Pátria e seu antípoda, o responsável pelo nosso insucesso. Se tivermos humildade, acreditarmos em nossa gente e propiciarmos que ela seja sujeito de suas decisões podemos interromper nossa trajetória rumo ao subdesenvolvimento sustentável. Queremos o Brasil na rota do desenvolvimento. O Brasil não é só isso.
Emanuel Fernandes, engenheiro aeronáutico formado pelo ITA, ex-prefeito de São José dos Campos (97 a 2004), ex-secretário de Habitação do Estado de São Paulo, é deputado federal, vice-líder do PSDB na Câmara. Site: www.emanuelfernandes.com.br