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Cultura que transforma

Andrea Matarazzo

Num país em que questões como saneamento, educação e saúde ainda são um problema grave, falar em cultura pode soar supérfluo.

No entanto, enquanto a educação é responsável pela formação dos cidadãos, apenas a cultura tem o poder de transformá-los. Quem tem contato com a arte ganha uma visão de mundo mais crítica e mais questionadora; estimula a criatividade e amplia o conhecimento.

Não por acaso, anúncios de emprego para as mais variadas funções, mesmo as pouco especializadas, costumam solicitar “boa cultura geral” dos candidatos. Ou seja, o acesso à cultura pode até mesmo ampliar as chances de ingresso no mercado de trabalho.

Estive dois anos à frente da Secretaria de Estado da Cultura de São Paulo – cargo que deixei na última quinta-feira para me desincompatibilizar para as eleições deste ano – e posso enumerar algumas das experiências transformadoras que o investimento realizado pelo Governo Geraldo Alckmin foi capaz de operar nesse setor, não só em pessoas individualmente, mas em comunidades, até em cidades inteiras.

A mais significativa delas foi voltada para a periferia de São Paulo, em bairros com o pior índice de vulnerabilidade para jovens.

Dez destes locais foram escolhidos para receber as Fábricas de Cultura – edifícios novos e equipados para estimular o contato da comunidade com diversas linguagens artísticas.

Durante a semana, as Fábricas funcionam como escolas de artes, oferecendo aos jovens cursos de circo, teatro, dança, música, multimeios; em algumas unidades, há cursos para a terceira idade à noite.

Nos fins de semana, o espaço é aberto para toda a família, que pode aproveitar as apresentações culturais de grupos profissionais ou de artistas da própria comunidade.

Nos cinco bairros em que já foram implantadas, as Fábricas estão mudando a realidade dos moradores. Movimentam a economia local e afastam os jovens do crime e das drogas.

Outra mudança marcante é a que a Biblioteca de São Paulo está operando na zona norte. Instalada exatamente onde antes existia a Casa de Detenção do Carandiru, a biblioteca atrai o mesmo número de visitantes que o Museu do Futebol – e isso é significativo em um país que se diz mais dedicado à bola do que aos livros.

O segredo da Biblioteca de São Paulo é oferecer um acervo variado, que vai das revistas de fofoca aos clássicos da literatura, num ambiente amplo, bonito e confortável.

O resultado que esta estratégia alcançou nos deu uma lição importante: o Estado nunca deve simplesmente impor aos cidadãos um ideal de “boa” cultura (o que seria isso, afinal?), mas ouvi-los para saber o que querem receber e, principalmente, também dar meios para que mostrem o que sabem produzir.

Por fim, vale sempre lembrar que os equipamentos culturais são peça fundamental do desenvolvimento urbano, pois atraem público e, com ele, a instalação de comércio e serviço mesmo em áreas muito degradadas.

O governo tem investido e continuará investindo na instalação de museus, teatros, centros culturais em áreas esquecidas da cidade, promovendo a recuperação de prédios históricos ou construindo novos espaços. Assim, a cultura também seguirá transformando a cidade – sempre para melhor.

 

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