Em todo o planeta, o alerta tem sido repetido, cada vez com mais intensidade: a escassez de água é um dos maiores desafios do nosso século. Parece mentira, já que três quartos do planeta são ocupados por água. Só que ela é quase toda salgada (97%) e 2% formam as geleiras, inacessíveis. Pior ainda: a exploração irracional da água doce de rios, lagos e lençóis subterrâneos está ameaçando a magra fatia de 1% da água que pode ser usada pelo homem.
Para complicar ainda mais esse cenário, nos últimos 50 anos, a população mundial passou de 2,5 bilhões de pessoas para 6,1 bilhões. Estima-se que até 2050 a terra tenha entre 9 bilhões e 11 bilhões de habitantes.
Aliado ao crescimento populacional, ao longo dos séculos, a má gestão de recursos hídricos, a falta de instituições apropriadas, a inércia burocrática e a carência de investimentos em infra-estruturas física e pessoal têm contribuído para a escassez de água.
Até 2025, segundo a ONU, 2,7 bilhões de pessoas vão sofrer severamente com a falta de água.
Em 2007, ainda de acordo com a ONU, mais de 1 bilhão de pessoas não tinha acesso à água potável e 2,6 bilhões (mais de 40% da população mundial) não contavam com coleta ou tratamento de esgoto, ou seja, sem saneamento básico. Um litro de esgoto lançado em um rio deixa centenas de litros de água impróprios para consumo. A ausência de saneamento é responsável por mais de 80% da mortalidade infantil e pela ocupação de mais de 50% dos leitos dos hospitais brasileiros por pessoas acometidas de doenças de veiculação hídrica, ou seja, de enfermidades transmitidas pela água.
Acrescente-se a tudo isso as previsões e o alerta dramático da ONU, que correlaciona aquecimento do planeta com maior evaporação de água e conseqüente acirramento da sua escassez.
No Brasil, as preocupações de cientistas e ambientalistas nem sempre são levadas a sério. Afinal, temos mais de 12% da água potável do globo. Uma riqueza, porém, extremamente mal distribuída: cerca de 80% estão na região amazônica; os 20% restantes se distribuem desigualmente pelo país, atendendo a mais de 90% da população. Em 9 regiões metropolitanas, a situação é crítica: os sistemas de abastecimento de água ficam contando com o beneplácito do clima (torcendo por chuva), para fugir do desabastecimento. Nem sempre conseguem, e a saída, onerosa e tremendamente desgastante, é apelar para o racionamento, tentando evitar o rodízio.
Há décadas, países que já vinham sofrendo com a escassez de água criaram instrumentos de gestão para assegurar a integridade dos ecossistemas. Atualizaram a legislação, adotando não apenas leis de comando e controle, como a Lei dos Crimes Ambientais, mas também leis que inibam comportamentos indesejáveis e incentivem procedimentos ambientalmente corretos, como é o caso da Lei de Cobrança pelo Uso da Água.
A preservação dos recursos hídricos deve se tornar prioridade imediata.
Antonio Carlos Mendes Thame é deputado federal e presidente do PSDB/SP. Foi secretário estadual de Recursos Hídricos (gestões Mário Covas e Geraldo Alckmin) e o primeiro presidente do Comitê de Bacias Hidrográficas dos Rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí
Fonte: O Globo