Orlando Morando
Se restava alguma dúvida do caráter politico-eleitoreiro da greve de metroviários que atormentou a vida de 4 milhões de paulistanos, ela foi sepultada pelo artigo de Altino de Melo Prazeres Jr., presidente do sindicato dos metroviários (“Quem parou São Paulo?”, 25/05).
O texto do senhor Prazeres é uma tristeza. Mistura ataques tresloucados à Justiça, ao governo do estado, à imprensa e ao partido do governador. Todos são culpados, menos ele…
Aos fatos. O sindicato liderou, na última quarta-feira, uma greve de metroviários que levou São Paulo ao caos e provocou forte repulsa na população da cidade.
Diante da reação negativa dos paulistanos, os grevistas recuaram, desgastados, encerrando a paralisação em menos de 12 horas. Saldo:
1) A população trabalhadora sofreu brutalmente;
2) Os metroviários saíram da paralisação com benefícios inferiores aos sugeridos inicialmente pelo TRT;
3) Perdeu o sindicato do senhor Prazeres, sobre o qual paira agora uma multa de R$ 1 milhão por não ter cumprido a exigência, estipulada pela Justiça do Trabalho, de 100% do efetivo nos horários de pico e 85% nos demais horários.
Prazeres confessa ter ignorado solenemente as condições estabelecidas pela Justiça para que a greve ocorresse em um serviço essencial. Por quê? Porque não as considerou justas. Ou seja, entende que está acima de um dos Poderes da República. Ele, e não o Judiciário, pode dizer o que é justo.
Afirmou ainda que parte da imprensa tentou jogar a população contra os metroviários, exibindo protestos nas estações como se fossem manifestações contra a greve.
Nisso, convenhamos, ele tem razão. Vários atos foram, de fato, praticados a favor da greve. No caso, por vândalos que furaram pneus de ônibus, o único meio de transporte que restava aos passageiros para chegar ao seu destino. Curiosamente, eram os mesmos vândalos que colavam cartazes do sindicato nas janelas dos ônibus e gritavam surrados slogans político-eleitorais.
No mundo do senhor Prazeres, nem a matemática funciona. Ele errou feio ao dizer que, pela inflação, o bilhete de metrô custaria hoje R$ 1,84, não os R$ 3,00 cobrados desde abril passado. A verdade é que, pelo IPCA de 2003 até hoje, a tarifa do bilhete unitário custaria R$ 3,16.
Isso sem contar que os custos de eletricidade e manutenção superaram em muito os de qualquer índice inflacionário. E que a tarifa do metrô manteve-se abaixo da passagem de ônibus por 26 meses, entre janeiro de 2010 e fevereiro de 2012.
Mas o sindicalista foi mais longe. Afirmou, com morbidez profética, que há, na linha 4-amarela, uma segurança inferior, por ser ela “privatizada e sem funcionários”. Gostaria que ele explicasse como uma linha opera “sem funcionários”. Será que não está destilando seu ódio pelo fato de os 323 trabalhadores da linha 4 terem atendido normalmente a população e rejeitado a greve?
Mas os usuários do metrô podem ficar tranquilos: o governo estará atento para defender um serviço que sabe ser essencial para a população e fará triunfar o império da lei.
Ao mesmo tempo, os recursos para investimento existem e estão sendo aplicados. O metrô de São Paulo é um dos únicos -senão o único- no mundo que tem quatro linhas sendo construídas ou ampliadas simultaneamente: 2-verde, 4-amarela, 5-lilás e 17-ouro. E já estão avançados os trâmites para o início das obras das futuras linhas 6-laranja, 15-branca e 18-metrô leve ABC.
O presidente do sindicato faz a sua versão mesquinha de luta de classes, como se os trabalhadores estivessem de um lado, e o governo, de outro. Não! Este governo, eleito pela maioria dos paulistas e dos paulistanos, é parceiro dos trabalhadores. Seus adversários são aqueles que levam o caos à cidade e que, para implementar uma pauta política, submetem milhões a seus caprichos.