Em queda de braço com funcionalismo federal, o governo enfrenta um conjunto crescente de paralisações e operações-padrão nos órgãos da administração que prejudica empresas e causa transtornos à população. “Já é uma greve geral”, afirma Sérgio Ronaldo da Silva, diretor da executiva da Confederação dos Trabalhadores no Serviço Público Federal (Condsef). Ela patrocina um acampamento de funcionários públicos em plena Esplanada dos Ministérios.
A entidade fez um levantamento que aponta para cerca de 30 órgãos paralisados total ou parcialmente. A mais nova adesão ao movimento foi das agências reguladoras, cujos funcionários pedem um aumento médio de 30% e mudanças nas estruturas das carreiras.
“Vamos parar a avenida Rio Branco”, prometeu o presidente do Sindicato Nacional dos Servidores das Agências Nacionais de Regulação (Sinagências), João Maria Medeiros, pouco antes da assembleia da Agência Nacional de Petróleo (ANP), cuja sede é no Rio de Janeiro. A intenção era decidir pela greve.
Nesta quarta-deira, o Sinagências pretende realizar assembleias em São Paulo para também paralisar as atividades. O impacto mais visível deverá ocorrer nos aeroportos de Guarulhos e Viracopos e no porto de Santos, pois algumas mercadorias importadas dependem da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para serem liberadas. “Como as empresas não estocam insumos importados, em uma semana já haverá problemas na produção”, explica o sindicalista.
A mesma forma de pressão tem sido exercida pela Receita Federal. O órgão não está em greve, e sim em operação-padrão, desde o mês passado. Todas as cargas passam por fiscalização. Assim, há demora na liberação de mercadorias.
“Na Zona Franca de Manaus, deram férias coletivas para 8.000 empregados por falta de insumos para trabalhar”, contou Pedro De La Rue, presidente do Sindicato Nacional dos Auditores Fiscais da Receita Federal do Brasil (Sindifisco). Os fiscais querem uma correção salarial de 30,18%.
A ordem da presidente Dilma Rousseff, porém, é não ceder. Nos próximos dias, o Ministério do Planejamento espera concluir um levantamento sobre os funcionários em greve para descontar os dias parados. Há, porém, dificuldade nas universidades federais, pois os reitores se recusam a informar quem são os grevistas.
O presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Vagner Freitas, deve encontrar-se esta semana com o ministro-chefe da Secretaria Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, na tentativa de obter uma proposta. O governo, por sua vez, afirma que já há uma negociação em curso cuja conclusão será no final de agosto. Qualquer reajuste salarial tem de estar decidido até o dia 31, quando segue para o Congresso a proposta do Orçamento de 2013.
“Eles vão ficar enrolando até o final de agosto, que é a data fatal”, aposta De La Rue. “Mas nós não somos bobos e vamos agir antes disso.”
Uma exceção foi aberta para os docentes das universidades federais, mas estes consideraram a proposta do governo insuficiente e continuam em greve. Para eles, foram oferecidos reajustes de até 45%.