Após uma semana em sua cidade natal, Passa Quatro, no sul de Minas, José Dirceu começou a discutir ontem com assessores, em São Paulo, seus últimos passos antes do início do julgamento do mensalão, que começa em 2 de agosto.
Ministro da Casa Civil no governo Luiz Inácio Lula da Silva. Dirceu é acusado de ser o chefe de uma quadrilha que pagava parlamentares em troca de apoio ao governo no Congresso.
A dúvida do ex-ministro é se participa ou não de um debate no sábado sobre o Movimento de Libertação Popular (Molipo), organização de esquerda que defendia a resistência armada ao regime militar, por meio de guerrilhas urbanas. Além de ter feito parte dos quadros daquela organização, Dirceu é autor do prefácio de um livro sobre a desaparecida política Maria Augusta Thomaz, que será lançado no evento.
Os organizadores do debate disseram que o convite foi feito antes da definição da data do julgamento do mensalão. Dias atrás, ele teria confirmado, por telefone, a participação. Os assessores mais próximos de Dirceu, porém, acham mais aconselhável ele não aparecer para evitar exposição pré-julgamento.
Recluso. Na semana em que esteve em Passa Quatro, Dirceu chegou a fazer caminhadas pelas ruas, cumprimentou moradores, mas sempre manteve a discrição. Depois que começou o assédio da imprensa, ele se fechou.
Passou a sair de casa apenas de carro e sempre para ir a cidades vizinhas. Na quinta e na sexta-feiras visitou a irmã que mora em Itajubá e esteve em Varginha. “Não vou dar entrevista, Aproveita P4”, limitou-se a dizer o ex-ministro, via mensagem de celular. “P4” é o modo carinhoso como os moradores chamam a cidade.
Para Paulo Vieira, dono do botequim vizinho à casa da mãe de Dirceu, onde o ex-ministro estava hospedado, a maioria das pessoas da cidade não dá importância ao mensalão. “A gente sempre o vê passando, ele cumprimenta, mas é muito fechado”, disse. “Esse negócio de julgamento a gente vê na TV, mas não é assunto nosso”, disse, no sábado, pouco antes de fechar o seu bar.