A trama do mensalão tem um aspecto raramente mencionado. Quem entraria com o paganini? O comissariado pedia dinheiro a Delúbio Soares, ele repassava a demanda a Marcos Valério, que, por sua vez, tomava empréstimos nos bancos Rural e BMG. Na sua conta, o PT deve-lhe R$ 100 milhões. Certo mesmo é que ele deve R$ 83 milhões. Tudo bem, mas quem quitaria essas dívidas?
Em outubro de 2003, Delúbio Soares estava no esplendor de sua fama. A essa época, batalhava o encerramento da liquidação do Banco Econômico, fechado durante o governo de Fernando Henrique Cardoso.
Litigando com o Banco Central, Angelo Calmon de Sá, ex-dono do Econômico, sustentava que tinha créditos de R$ 6,3 bilhões, suficientes para quitar seus débitos. O BC sustentava que esses créditos não valiam e seu presidente, Henrique Meirelles, blindou-se, mesmo quando foi pressionado por parlamentares petistas.
Se abrissem o cofre, todas as instituições interessadas poderiam reivindicar até R$ 40 bilhões. Diante de semelhante ervanário, os R$ 100 milhões devidos pelo comissariado seriam gorjeta.
O repórter Fernando Rodrigues revelou que Marcos Valério relembrou a Delúbio seu interesse no caso do Econômico durante um encontro às vésperas de seu depoimento ao Ministério Público. Tipo me-ajuda-senão-eu-falo. Prometeram-lhe apoio, mas deixaram-no na estrada. Ainda bem.
Passou o tempo e, enquanto se discutia o velho escândalo, a manobra reapareceu, mansinha. A ressurreição dos créditos foi contrabandeada na medida provisória 517, também conhecida como “MP Frankenstein”, porque nela havia de tudo.