BRASÍLIA – O advogado do empresário Marcos Valério, Marcelo Leonardo, admite que o caso de seu cliente é o mais difícil no julgamento do mensalão pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Diz que seu cliente é um “boi de piranha” da classe política envolvida no esquema e é um dos poucos que verbalizam uma queixa cada vez mais comum entre os advogados dos réus: a ausência do ex-presidente Lula e outros beneficiários do esquema no processo.
Os advogados terão uma hora para defender seus clientes. O caso do Marcos Valério é o mais difícil?
Marcelo Leonardo: É o caso mais trabalhoso. Apesar de Marcos Valério não ser político, ele tem todo um envolvimento político. É o réu que tem o maior número de acusações. Isso tem uma curiosa explicação. Quando tudo começou, a classe política sentindo o peso nas costas, jogou o caso em cima de um empresariozinho mineiro desconhecido. Criaram a expressão “Valerioduto”. Mas poderia ser “PTduto”, ou “Delubioduto”. Isso tirou o foco tanto dos destinatários quando de quem mandou. Valério acabou sendo o mais perseguido e hoje responde a cerca de 15 ações penais.
Porque Marcos Valério não fala isso?
Marcelo Leonardo: O Valério foi usado para ser o boi de piranha, mas continua fiel a essas pessoas com quem se relacionou. Se falasse alguma coisa para agradar o PSDB, acabaria sendo desmoralizado e visto como um traidor. Desde 2005 a gente combinou que ele não daria entrevista nem falaria nada sobre o caso.
O senhor usará isso em sua sustentação oral? Dará essa conotação política?
Marcelo Leonardo: Não. Dar essa conotação política não ajuda em nada. Minha defesa será puramente técnica.
Marcos Valério pode resolver matar no peito, e ficar calado como o Delúbio Soares?
Marcelo Leonardo: O Delúbio era ligado a quem quando foi escolhido para ser o secretário de finanças do PT? Não era ao Genoino. Também não a Zé Dirceu. Todo tesoureiro do PT é ligado a Lula, que não está no processo. Nunca vi isso na vida. O operador do processo, nesse caso, é mais importante do que quem manda.