Raul Christiano (*)
A questão do uso da internet nas campanhas eleitorais, que pautou as mídias nas últimas semanas, parece que não é bem-vinda por todos os internautas brasileiros.
É sabido que a internet ampliou a comunicação humana e é responsável pela integração global, com as suas formas de produção, distribuição e consumo do conhecimento.
Percebo que a reação negativa de muitos, militantes virtuais de qualquer causa ou interesse, só se manifesta por conta da rejeição ao comportamento de uma boa parcela de atores do mundo político e, principalmente, pela quantidade de lixo em toda rede.
Estou terminando de escrever livro, cujo título é Militante Virtual Experiências do uso da Internet para campanhas eleitorais e nele destaco que a superação dessas barreiras não se dará apenas com os novos formatos de comunicação desse meio, mas pela qualidade dos conteúdos que devem circular a partir do decreto de liberdade pelo Congresso Nacional.
Tenho certeza de que não faltará, além de profissionais altamente preparados para a transformação e digitalização até dos velhos discursos políticos, o poder criativo dos próprios políticos e dos seus especialistas em marketing e comunicação. Será que os coordenadores de campanha, detentores de milhares de votos por antecipação, sobreviverão”
Parece simples, a troca do velho jeito de fazer campanhas pelo seu comando virtual, mas não é quando observamos o universo de pessoas e cabeças que são o foco de atenção para as próximas campanhas políticas. Nos últimos anos a festa eleitoral foi profissionalizada de tal forma, que candidatos e partidos estavam obrigados a pagar uma espécie de pedágio para o contato direto com os eleitores.
Acredito que a internet ganhará força justamente porque quebrará o comércio de líderes e esquemas nos bairros e cidades, apesar de que o contato pessoal dos candidatos ainda será necessário durante eventos e aglomerações de gente.
No entanto, mudanças anteriores na legislação eleitoral reduziram bastante as atrações para a mobilização desses eleitores. E na última eleição municipal o Tribunal Superior Eleitoral ainda fazia cumprir regras muito duras para o uso da internet na divulgação dos candidatos.
Portanto, o mérito da decisão do Senado, ao aprovar o uso quase que totalmente livre da internet nas eleições, é do bom senso.
Dez entre cada dez internautas não conseguiam ver alguma lógica nas limitações que alguns parlamentares insistiam impor, justamente porque os seus argumentos eram inócuos desde a primeira opinião veiculada sobre o tema.
A regulação do uso da internet, com os filtros censores pretendidos ao longo dos debates em todas as mídias, a meu ver se justificaria apenas pela ignorância, medo e falta de familiaridade com as suas ferramentas, ou inovações tecnológicas.
A experiência da internet na eleição de Barack Obama para a presidência dos Estados Unidos propagou na rede mundial de computadores de maneira mais veloz que o próprio vírus da gripe suína nos canais de detecção da vigilância sanitária.
Os americanos têm hábitos muito diferentes dos brasileiros no uso da internet. Levando-se em conta que no Brasil alcançamos o número de 36,4 milhões de usuários conectados, seja em casa ou no trabalho, e que, levando em consideração os acessos em lan houses, bibliotecas, escolas e telecentros, o país conta com 64,8 milhões de usuários de internet com mais de 16 anos de idade, é de se pensar que as eleições brasileiras de 2010 apresentarão resultados transformadores.
A conclusão também não é tão simples assim: especialistas no assunto alertam que o uso da internet e a participação política dependem muito da cultura de cada país.
No Brasil, por exemplo, os sites de entretenimento e e-mail são os mais visitados, que as redes sociais, portais, sites e blogs políticos.
No caso de Obama, os simpatizantes fizeram vídeos manifestando apoio ao candidato, independentemente do partido ou da sua campanha. Aqui, antes mesmo dos partidos e candidatos colocarem os seus blocos nas ruas, já observamos estrategistas, marqueteiros, assessores políticos e militantes, fazendo campanha por antecipação.
Também, quando se vê a antecipação da campanha eleitoral no país, pelo próprio presidente da República, quem poderia segurar a internet a qualquer pretexto” A vantagem da internet livre a partir das eleições de 2010, apesar do equivocado controle dos debates, é que haverá mais transparência em praticamente tudo, reduzindo drasticamente a força daqueles que se resumem no abuso do poder econômico para ter ou manter seus mandatos.
Mas isso é para outro capítulo, que o Militante Virtual vai conhecer aos poucos, navegando sempre!
(*) Raul Christiano, 51 anos, jornalista e relações institucionais da Sabesp, foi diretor de articulação com municípios do Ministério da Educação (governo FHC) para implantação do Programa Bolsa Escola Federal. É autor do livro De Volta ao Começo Raízes de um PSDB militante que nasceu na oposição, 2003. Mantém o blog www.raul.blog.br


