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Política não pode (e nem precisa) ser sinônimo de corrupção

Agora que nos aproximamos do fim do ano, é hora de fazer um balanço – hábito comum entre todos. Repensamos ações, erros cometidos, situações que poderíamos ter evitado. É um hábito que faz bem: de alguma forma, isso nos renova e nos permite começar um ano novo realmente com outra disposição, outra mentalidade.

Daí dar o que pensar quando nos deparamos com pessoas – ou organizações – que parecem não ter esse hábito, e pior ainda: não se importar com nada que tenha feito. É o caso daquele que um dia foi o Partido dos Trabalhadores: após chegar ao poder, tudo o que o partido fez foi acomodar-se na ocupação das máquinas institucionais. A postura de operário e os discursos cheios de promessas de transformação do ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva, por exemplo, deu lugar ao aproveitamento dos cargos públicos conquistados para o beneficio pessoal.

E olhe que 2012 foi um ano crítico para o PT: escândalos não faltaram. Pelo contrário – após mensalão, julgamentos, protestos, tráficos de influência, tentativas de calar e controlar o Supremo Tribunal Federal (calar um poder!), achamos que já tínhamos visto de tudo. Estávamos errados. Escândalos continuaram a aparecer em plena reta final do ano. Mas vamos por partes.

O maior exemplo da nova ideologia petista esteve presente em todo o processo do mensalão – da sua criação ao seu julgamento. A troca de dinheiro por apoio – tão discutida, debatida e acompanhada pela sociedade brasileira – foi a prova maior de que o poder político foi capaz de transformar o modo de pensar e de agir dos dirigentes do PT. Ao conquistarem a chance de por em prática tudo o que sempre pregaram, preferiram mudar as suas próprias vidas, ou tentaram, talvez pensando que jamais fossem punidos.

Punição, aliás, muito contestada e criticada pelos petistas. O partido acredita firmemente em perseguição política e punições inadequadas – quando se trata deles, obviamente. Lavagem de dinheiro, corrupção ativa e passiva, formação de quadrilha, gestão fraudulenta, peculato e evasão de divisas… Os crimes são muitos, mas para o Partido dos Trabalhadores tais acusações soam como um abuso do Supremo Tribunal Federal. Quando, repito, tais atos são imputados a eles; se fosse a oposição, o Supremo seria para o PT um baluarte da justiça, sem questionamentos.

Não bastasse isso, os réus ainda acusaram a imprensa de pressionar o Judiciário para que houvesse grandes punições e de manipular a opinião pública para macular a imagem do PT. José Genoino, ex-presidente do partido, chamou jornalistas de “urubus e torturadores da raça humana” quando foi votar nas eleições municipais, em São Paulo. Na mesma época, o ex-presidente Lula afirmou que a população estava mais preocupada com o possível rebaixamento do Palmeiras à série B do que com os resultados do julgamento do mensalão. José Dirceu, ex-ministro da Casa Civil, afirmou diversas vezes ter recebido um julgamento injusto, sem a chance de se defender adequadamente, com sentenças estimuladas pela mídia. Além da Corte haver provado, em todos os casos de condenação, a participação dos réus em esquemas fraudulentos e corruptos, os personagens também parecem se esquecer de que a mesma mídia que hoje eles tentam destruir foi a que, um dia, elevou ao status de superastro um certo metalúrgico de São Bernardo, que lutava por melhores condições de trabalho com seus companheiros grevistas…

Recentemente, o ex-metalúrgico foi novamente “pego de surpresa”: uma operação da Polícia Federal revelou que a ex-chefe de gabinete da Presidência em São Paulo integrava um bando que agenciava interesses privados em agências e outros órgãos públicos, em troca de dinheiro e favores. A intimidade entre a chefe de gabinete e Lula era tanta que nas últimas semanas tem sido divulgado que, mais do que uma relação de patrão e empregada, os dois na verdade tinham uma relação de fundo amoroso. Mais uma vez, em meio a todas as denúncias, Lula afirmou não saber de nada. Mais uma vez, para os correligionários, os fatos não comprovavam nada – eram “invenções da imprensa com o objetivo de destruir o partido”.

Neste caso, aliás, foi mais uma vez demonstrada a capacidade do partido de imputar a outras pessoas a responsabilidade pelos atos de seus dirigentes. Outro exemplo? A politização da redução das taxas de energia elétrica. Segundo os petistas, é por culpa dos governos de São Paulo, Minas Gerais e Paraná – todos do PSDB – que os brasileiros não irão pagar mais barato pela energia elétrica a partir de 2013. Mas o que o PT não conta é que nestes estados os governos já tomaram ações que baratearam tais tarifas. O PT também não explica porque o governo não abriu (nem abre) mão de encargos e tributos federais, o que teria provocado a redução destes valores há muito tempo. Mas, outra vez, em vez de agir corretamente, os petistas preferem jogar para a oposição a culpa pelos atos do partido da estrela vermelha.

É no mínimo chocante sermos confrontados hoje com esse tipo de realidade, principalmente vindo de um partido que sempre pregou a moral e no qual tanta gente acreditou. Se considerando acima do bem e do mal, o PT acredita que as críticas são maldosas e por isso não as respeita. Criticam os veículos de imprensa por possuírem “muita liberdade”, afrontando a quem se puser em seu caminho. Parecem se esquecer que é justamente a liberdade de questionar que faz de nós uma democracia – e se esquecem de que, não houvesse democracia, Lula jamais teria sido eleito.

Mas afinal de contas, qual é o preço que estamos pagando por essa simpatia dos governantes petistas, quando levamos em conta todos os escândalos, toda a corrupção e todo o dinheiro desviado? A que preço, quando lembramos que o partido afronta a própria democracia e liberdade de expressão? A que preço, quando constatamos que o partido arma um esquema para comprar o poder Legislativo e, confrontado com os fatos, tenta diminuir o poder Judiciário?

Vamos supor que a situação fosse a inversa – e que todos esses escândalos tivessem sido debitados à oposição, ao PSDB. Não teria sido necessário nem a confirmação dos fatos para que o PT fizesse manifestações por todo o país, nas principais avenidas, pedindo – se não exigindo – punição para os criminosos. Mas o que acontece é justamente o contrário: embora petistas estejam envolvidos nos mais diversos tipos de escândalos possíveis, o PSDB opta pela dignidade. Talvez até – e aqui antecipo um pedido de desculpas – possamos estar falhando em não fazer o estardalhaço que o outro partido faria. Mas ao menos não partimos para o jogo baixo, tentando acusar toda a sociedade dos crimes que foram cometidos por eles mesmos.

Só nos resta torcer para que a lista de escândalos tenha chegado ao final, embora duvide disso. Provavelmente, a última notícia de 2012 e a primeira de 2013 irão se referir a escândalos do PT. E novamente – e infelizmente – ninguém saberá de nada.

*Marco Pilla é delegado nacional do PSDB.

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