Por ALBERTO GOLDMAN
Não quero tripudiar sobre os condenados no processo do mensalão. Leio as suas declarações, as suas reações indignadas e certamente nenhum de nós que conheceu o passado dos personagens políticos atingidos poderia imaginar que o desfecho fosse o que está sendo. Diante do quadro trágico em relação ao futuro dos mesmos é preciso um pouco de tolerância, de compreensão. Mancharam a sua história e isso é muito penoso para eles e mesmo para aqueles que se opõe à forma como lidaram com o poder obtido na luta política. O que não é aceitável é a forma arrogante com que se pronunciam. Um exemplo gritante é um trecho da entrevista do José Dirceu à Folha, no final do ano passado, no qual ele se lamenta: “perdi os melhores anos da minha vida nesses últimos sete anos…anos em que eu estava mais maduro, em que eu poderia servir o país” ( pois teve de se defender do processo do mensalão ). Prossegue: “eu poderia ter ganhado muito dinheiro como consultor. Poderia ficar rico, ter ganhado R$ 100 milhões. Mas é por isso que eu sou o José Dirceu. Tudo que eu ganhei eu gastei na luta política.”
Aí é que a coisa pega. Poderia ter ganhado 100 milhões? Mais de um milhão por mês nos sete anos? Como? Não é empresário, não tem escritório de advocacia, então como? Ainda que seja, como ele diz, “por isso que eu sou o José Dirceu”, não é demais?