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O que restou de Copenhague

Opinião Pedro D'Alessio (*)

Se podemos nos orgulhar, os brasileiros, de possuirmos vastas florestas e belas reservas ecológicas, deveríamos agradecer por essas benesses a duas “qualidades” singulares do Hemisfério Sul: a generosidade divina da Mãe Natureza e o subdesenvolvimento. Entre os países do mundo, o Brasil é um dos mais privilegiados, pois ainda mantém, em boa parte preservados, alguns daqueles “tesouros”.

Paradoxalmente, a pobreza, que sempre estivemos a lamentar, é a responsável pela segunda e derradeira “chance” para trilharmos o caminho de um desenvolvimento sustentável, que elimine as contradições entre o crescimento econômico e a preservação do meio ambiente.

Sim, porque os países do Primeiro Mundo, campeões em poluição ambiental, não tiveram a mesma sorte. Para enriquecer, destruíram 90% de suas reservas naturais. Um prejuízo irrecuperável.

Quanto a nós, podemos estar felizes já que, em certa medida e por enquanto, escapamos ao falso êxtase da economia predatória – o malfadado “capitalismo selvagem”. Por certo, tal “monstro” também viveu e vive entre nós. E é o culpado pela destruição de grande parte das riquezas naturais do planeta e da atmosfera da Terra.

Por tudo isso, podemos agradecer a Deus e aos pobres, “pois deles é o Reino dos Céus”. A pobreza pode ter nos salvado até aqui.

E daqui por diante também, se soubermos eliminá-la com simplicidade e sabedoria, reavaliando os métodos e valores do processo civilizatório e do desenvolvimento econômico.

A preservação do meio ambiente é, antes de tudo, uma questão de educação e conscientização. A COP 15, assim como a ECO 92, realizada no Rio de Janeiro há 17 anos, funcionaram como fatores motivacionais para nos ajudar a pensar. Naquela ocasião, entre outras iniciativas paralelas à reunião do Rio, São Paulo sediou, no Pavilhão do Anhembi, uma grande Feira Internacional da Indústria de Equipamentos Anti-Poluição, mas não fomos capazes de dar sequencia prática às suas propostas.

Sem dúvida, todos esses eventos nos propiciaram o benefício da enorme divulgação do tema da consciência ecológica, extrapolando o plano diplomático da ONU e ganhando auditórios, ruas e botequins, com debates, oficiais ou não, em diversas cidades mundo afora.

Então, se já vimos e ouvimos tudo, agora devemos refletir o dobro!

Estavam muito certos os críticos das Convenções do Clima ao frisarem, nos seus protestos e pronunciamentos – em especial, por ocasião dos eventos de Kyoto (1997) e Copenhague (2009) – que a dívida externa e a própria miséria dos países do Terceiro Mundo contestavam a “falsa propaganda ecológica” vinda dos países ricos. É preciso pressionar mesmo, pois até aqui os EUA se recusaram a assinar o Protocolo de Kyoto – e a maioria dos países desenvolvidos não está cumprindo as metas acordadas nessa reunião bem como a Convenção Internacional da Biodiversidade.

Certíssimo também está o Governador José Serra, ao promulgar a recente legislação estadual de contenção da emissão dos gases do efeito estufa e propor um novo modelo de desenvolvimento sustentado para São Paulo, com metas claras e múltiplas aberturas para a expansão dos setores de tecnologia e a criação de novos empregos, orientando mais corretamente o nosso crescimento futuro.

As condições objetivas para uma economia competitiva de baixo carbono já estão criadas, em âmbito internacional, pois o aquecimento global é uma ameaça real para todo o mundo. Neste particular, é fundamental apoiar as pesquisas acadêmicas para criação de projetos de sequestro de carbono, produzindo novos meios criativos para a contenção do fenômeno do aquecimento.

Também é importante promover investimentos pesados nas politicas oficiais de universalização do saneamento básico, para atender as populações urbanas e garantir o tratamento adequado das águas usadas, destinadas ao despejo nos rios.

No apagar das luzes de 2009, embalado pela lei aprovada em São Paulo e a dimensão midiática do tema, o Governo Federal sancionou a nova legislação ambiental, instituindo a Politica Nacional de Mudanças Climáticas, que pretende estabelecer metas setoriais de controle das emissões de carbono.

Porém, após sua aprovação pelo Congresso Nacional, o projeto original – que teve início na gestão da ex-ministra Marina Silva – sofreu importantes vetos do Presidente Lula, cedendo às pressões dos setores energéticos, partindo do próprio Executivo, para proteger os projetos de novas grandes hidrelétricas e a indústria do petróleo.

Agora, além da próxima reunião anual que acontecerá, ainda neste ano, no México, a ONU já prepara outra grande Conferencia para debater a “economia verde” e comemorar os 20 anos da ECO 92, a ser realizada em 2012, também no Rio de Janeiro.

Entretanto, não podemos nos iludir. Se os países ricos resolvessem perdoar a dívida externa dos subdesenvolvidos, para neles investir maciçamente segundo o atual modelo, em poucos anos nada sobraria para contar esta triste história. Ninguém duvida que os ricos sempre olharam – e olham – os pobres do mundo… pelo ângulo puro e simples da rapinagem. Os pobres, naturalmente, são responsáveis por índices per capita bem reduzidos de emissão de carbono, mas possuem riquezas naturais sempre muito cobiçadas.

Diante da questão ambiental impõe-se uma revisão da postura histórica das nossas elites, públicas e privadas. O Brasil é o quinto maior poluidor da atmosfera (especialmente pelos efeitos do desmatamento na Amazonia), seguindo os EUA, China, União Européia e Indonésia. Prosseguir acumulando e concentrando capital de forma predatória, sob as benesses do Estado, é nada menos que um crime de lesa-pátria.

É preciso que o povo brasileiro assuma o seu melhor destino e coloque o crescimento econômico a seu próprio serviço, praticando um desenvolvimento sustentado e responsável, baseado no equilíbrio rural-urbano e na relação harmônica com o meio ambiente. Caminhar com as próprias pernas, no sentido da superação paulatina das práticas governamentais assistencialistas, susbtituindo-as pela Educação e a efetiva distribuição da renda do trabalho, decorrente do desempenho crescente da economia nos mercados, internos e externos, de bens e serviços.

Seria bom se as animadas “discussões ecológicas” pudessem atravessar janelas e umbrais para instalar-se, também, nos quintais. Talvez aí, então, poderíamos compreender que, a rigor, quando falamos de meio ambiente, estamos falando de nossas próprias casas! Que pertencem não a nós, mas aos
nossos descendentes, às gerações futuras, fiéis depositárias da memória do (que foi) ser humano, em nosso tempo.

(*) Pedro D'Alessio, jornalista e economista, Mestre em Economia Regional e Urbana pela Universidade de Paris, é Coordenador do Programa Água Limpa da Secretaria de Saneamento e Energia do Estado de São Paulo.

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