A ONG israelense Paz Agora afirma que existem 120 assentamentos de colonos israelenses em território da Cisjordânia. Há vilarejos, com algumas dezenas de pessoas; há cidades, com milhares de habitantes, equipadas com toda a infraestrutura urbana. No total, 09% da Cisjordânia são ocupados, de fato, por cidadãos de Israel._x000D_Em 25 de novembro de 2009, o primeiro-ministro Binyamin Bibi Netanyahu declarou que Israel congelaria, por dez meses, as construções em assentamentos da Cisjordânia (região onde moram 300 mil israelenses e 2,3 milhões de palestinos). A Cisjordânia, Gaza e Jerusalém Oriental são reivindicadas pela nação palestina como território para a efetivação de seu Estado nacional._x000D_Será que Bibi se tornou pacifista, da noite para o dia” Nem tanto. O anúncio de Netanyahu ignorou Jerusalém Oriental (onde moram 180 mil israelenses e 250 mil palestinos) e manteve o que ele chama de ampliação natural das colônias ou seja, respeitando o crescimento vegetativo das comunidades. O congelamento de Bibi exclui Jerusalém Oriental e seus arredores (o que significa 22% do território da Cisjordânia), onde se concentram as atividades dos colonos israelenses; também exclui 03 mil unidades residenciais previamente aprovadas e a construção de prédios públicos._x000D_Parece óbvio que os palestinos rejeitariam esse anúncio como base para avanços nas negociações com Israel. E foi o que aconteceu: o presidente palestino Mahmoud Abbas reafirmou a exigência de que Israel suspenda toda a atividade em Jerusalém Oriental e Cisjordânia._x000D_O anúncio de Netanyahu também desagradou seu público interno, sua própria coalizão de governo. Ao determinar o congelamento temporário da expansão dos assentamentos, Bibi descontentou o partido ultraortodoxo Shas e os grupos ultranacionalistas Israel Nosso Lar e Casa Judaica. Se esses três partidos saem da coalizão, ocorrem novas eleições em Israel. Até o partido Likud, do primeiro-ministro, ameaçou se rebelar._x000D_Os colonos israelenses, na Cisjordânia, formam outro público que está descontente com o primeiro-ministro. Na região existem 100 mil pessoas que consideram a região parte integrante de Israel, descrita no Velho Testamento como a região que Jeová destinou ao povo judeu; uns 80 mil, apesar de ultraortodoxos, não se envolveriam em conflitos violentos, mas não apoiariam Netanyahu se ele continuar com a tese de congelamento das construções; os 70 mil restantes aceitariam mudar, se o governo israelense pagar a conta. Mas todos os colonos acham que Bibi está cedendo a pressões externas, com medo de perder a aliança com os EUA. E elevaram o tom dos protestos, mesmo depois de Netanyahu afirmar que, após o prazo de congelamento, as construções, nas colônias, serão retomadas com toda a força, independentemente da volta (ou não) das negociações de paz. No começo de dezembro, colonos israelenses invadiram uma mesquita no sul da Cisjordânia, queimando livros sagrados e pichando paredes. Esses atos de vandalismo quase levaram a uma nova escalada de violência regional._x000D_É possível concluir que a proposta de congelamento das construções na Cisjordânia não animou os palestinos, não levará ao retorno das negociações de paz, não tem o apoio dos colonos israelenses, revolta a base de sustentação política do primeiro-ministro e pode provocar uma nova onda de confrontos na região. Sabemos, também, que Bibi não é um político ingênuo ou bobo. Isso nos leva a imaginar que as motivações de Binyamin Netanyahu se encontram na política externa._x000D_O congelamento é um artifício para debelar a crescente pressão internacional contra Israel. No curto prazo, os resultados parecem parcos: George Mitchell, enviado especial dos EUA ao Oriente Médio, parabenizou Bibi, mas deixou claro que o passo é insuficiente; Hillary Clinton, secretária de Estado, disse o mesmo; Barack Obama simplesmente calou-se. Além disso, União Europeia afirma que não reconhece a presença israelense na Cisjordânia e que Jerusalém deve ser reconhecida tanto como capital de Israel como de um eventual Estado palestino._x000D_Mas, na essência, a ação de Bibi volta-se para o médio prazo. Ele deve ter aprendido a manobra com Menahen Begin (que, na década de 1970, devolveu o Sinai para os egípcios enquanto manteve sob controle de Israel as estratégicas reservas hídricas das Colinas de Golã) e com Ariel Sharon (que entregou a Faixa de Gaza, para os palestinos ao mesmo tempo em que fortaleceu o Hamas e solapou a unidade política dos rivais): Netanyahu busca legitimação internacional, nas negociações da Cisjordânia, enquanto se prepara para atacar o Irã._x000D_ De maneira pragmática, Bibi concluiu que é melhor abrir mão de alguns ideais, para manter o apoio estadunidense e garantir a credibilidade política internacional. Assim é possível concentrar-se no que realmente o primeiro-ministro considera fundamental para a segurança de Israel: a prevenção (provavelmente punitiva e violenta) de um ataque nuclear proveniente do Irã. Netanyahu considera que o regime ditatorial iraniano não se curvará às pressões diplomáticas planetárias e que Mahmoud Ahmadinejad aposta no confronto com Israel e EUA para se fortalecer internamente._x000D_O governo iraniano se mostra alerta diante dessa possibilidade: por isso, Ahmadinejad investe na aproximação com os países latinoamericanos e acelera os processos que levarão à produção de armas nucleares. Há uma verdadeira corrida contra o tempo, implícita na atuação diplomática iraniana e israelense. Bibi acredita que conseguirá queimar o Irã, antes do governo xiita ter as condições de produzir um novo holocausto._x000D__x000D_Ney Vilela é coordenador regional do Instituto Teotônio Vilela de estudos políticos e autor do livro Irmãos-Inimigos judeus e palestinos lutam por Jerusalém. São Carlos: Ed. RiMa, 2004. 2ª ed._x000D__x000D_


