Opinião Raul Christiano
Com a descoberta de mais uma quantidade de arquivos secretos do DEOPS Departamento Estadual de Ordem Política e Social de São Paulo, no prédio Palácio da Polícia, no Centro de Santos, novas informações subsidiarão a história política regional e do próprio país. Esses documentos contêm informações sobre as atividades de muitas pessoas, das mais variadas áreas de atuação regional, obtidas por meio de relatórios de policiais e civis infiltrados nas principais atividades e eventos sociais, sindicais e políticos da Baixada Santista. A surpresa veio com o período da perseguição dos passos da militância, após a anistia política em 1979, quando o país vivia ainda no governo militar a chamada Abertura e a diminuição dos atos repressivos.
Em que pese o fato de que esses documentos deveriam ter sido encaminhados ao Arquivo Público do Estado a partir de 1994, a sua descoberta agora gera a necessidade de uma investigação das razões de permanecerem fora dos cuidados da área responsável por tanto tempo. Estou convicto de que muitos soldados desconhecidos da causa pela democracia terão suas histórias resgatadas e muitas explicações novas acerca do paradeiro de desaparecidos políticos podem ser encontradas. Os dados foram obtidos pelos agentes do DEOPS até 1984, mas creio que ainda sobraram muitos segredos em outras salas, galpões, cemitérios.
A Baixada Santista sempre foi caracterizada como uma região bastante ativa no movimento sindical e político. A atividade portuária, que no passado representava a maior participação do seu movimento econômico, concentrava também a força da organização dos seus trabalhadores em sindicatos fortes e com repercussão nacional. Santos, por exemplo, era considerada a Barcelona brasileira, justamente pela similaridade política dos seus movimentos trabalhistas.
No entorno do Porto de Santos repercutiam outras ações, entre os estudantes e também nas representações políticas da Câmara de Vereadores, Assembléia Legislativa e Câmara dos Deputados. Políticos locais e de repercussão regional sempre foram reconhecidos além do nosso território, em todo o país. Por isso não surpreende a atividade intensa da polícia política exercida pelo DEOPS, vigiando reuniões, eventos, concentrações de pessoas, publicações, salas de aulas. Nesses locais haviam sempre civis infiltrados para depois relatar comportamentos e ações consideradas subversivas, que na percepção deles podiam significar um perigo aos poderes constituídos de São Paulo e do governo ditatorial centralizado em Brasília.
Por isso, a revelação da existência de mais de seis mil dossiês, dispostos em cerca de 600 pastas, numa sala na sede da polícia civil em Santos, é mais uma luz no final do túnel de uma parte da história do Brasil, ainda desconhecida e sem esclarecimento. Estou certo que em breve conquistaremos novas explicações para reforçar a nossa crença na importância incomensurável da Democracia, como o melhor de todos os regimes de governo!
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