“Em seus 80 anos há muitas características do senhor Fernando Henrique Cardoso a homenagear. O acadêmico inovador, o político habilidoso, o ministro-arquiteto de um plano duradouro de saída da hiperinflação e o presidente que contribuiu decisivamente para a consolidação da estabilidade econômica.”
Essa é a melhor resposta ao documento raivoso que o PT acaba de lançar a pretexto de comemorar seus dez anos de poder. Ela está na carta enviada pela presidente Dilma Rousseff, em junho de 2011, a Fernando Henrique Cardoso, que comemorava 80 anos.
Foi Fernando Henrique Cardoso que criou o Proer, que permitiu o saneamento do sistema financeiro nacional no final dos anos 90. Quando a crise financeira internacional desabou sobre Wall Street e as bolsas europeias, os bancos – e os correntistas, poupadores e investidores brasileiros – podiam dormir tranquilos.
Isso levou “Nosso Guia, Nosso líder”, a um surto de arrogância, em março de 2008, ao proclamar: ““O Brasil tem know-how para salvar banco. Tem o Proer. Se eles precisarem, podemos mandar tecnologia para eles.’ E acrescentou que iria mandar uma cópia do programa para a Casa Branca.
O Proer já havia sido “absolvido” pelos economistas do PT que dirigiam o BC em fevereiro de 2003. Segundo nota da instituição, “o Proer não foi concebido para ser um programa de socorro a banqueiros, mas sim um programa instituído para garantir a estabilidade do sistema financeiro”. Sem o Proer, ocorreriam “prejuízos a milhões de depositantes, com efeitos potencialmente desastrosos para a economia”.
A inclusão social e o resgate de 500 anos de atraso começaram com a implantação do Plano Real, que quebrou a espinha dorsal da inflação e da especulação financeira e corroía o tecido social e das instituições. Com isso, milhões de pobres começaram a ter acesso ao consumo e aos bens do capitalismo. Afinal, o socialismo real, que sempre foi defendido pelo PT só “socializou” a miséria.
Os petistas precisam ser lembrados de um encontro, em abril de 2004, no Fórum Empresarial de Comandatuba, entre o ex-presidente Fernando Henrique e o então ministro da Fazenda, Antônio Palocci.
Palocci disse que a dedicação de FHC e sua equipe haviam sido fundamentais para tornar o Brasil um país equilibrado. O ministro acrescentou ainda que não se sentia “ofendido” quando comparavam a política econômica do lulismo com a da gestão anterior.
”Se é igual e é correto, vou continuar fazendo por mais 10 anos” – acrescentou.
Quando chefiava a transição do governo tucano para a administração petista, em novembro de 2011, Palocci chegou a brincar com os arreganhos dos petistas mais raivosos: “Já estou sendo considerado à direita de Pedro Malan em matéria econômica.”
O PT também não foi inovador ao “criar” o programa de combate a miséria. As duas cidades do Piauí – Guaribas e Acauã – escolhidas para modelo de implantação do Fome Zero em janeiro de 2003 – já eram atendidas por seis programas sociais criados no governo de FHC.
O Bolsa Família, “inventado” por Lula, não passa da reunião dos programas sociais mais importantes do governo tucano – o bolsa escola, o vale alimentação, o vale gás, o programa de erradicação do trabalho infantil e o programa para jovens em situação de risco.
O cuidado com o que era “do povo, para o povo e pelo povo” sempre esteve presente nos oito anos do governo tucano.
A prova disso foram os elogios do primeiro ministro da Saúde de Lula, Humberto Costa, aos programas de combate à Aids e dos remédios genéricos, criados por José Serra.
Indicado para o MEC, o então senador Cristovam Buarque reconheceu: “Encontro hoje a educação brasileira melhor do que há oito anos. E o que eu digo é o reconhecimento de todo o Brasil.”
Escolhida para o Ministério da Assistência e Promoção Social, Benedita da Silva, disse: “A primeira coisa é não mexer naquilo que está dando certo.”
Já as privatizações trouxeram progresso e desenvolvimento para o país. Bastam dois exemplos.
A transferência do monopólio estatal do petróleo da Petrobrás para a União permitiu que a estatal fizesse “joint ventures” com grandes multinacionais. Isso levou à descoberta do pré-sal. O primeiro campo foi encontrado por uma “joint venture” da Petrobrás com a Galp e a BP.
Já a quebra do monopólio das telecomunicações permitiu a democratização – ou a “socialização” da telefonia, para usar uma palavra do agrado dos petistas. Até então, telefone era privilégio dos muito ricos. Hoje, qualquer trabalhador tem o seu celular.
Mas a melhor prova do acerto do governo Fernando Henrique foi dada pelo próprio Lula ao anunciar alguns dos seus ministros.
Os escolhidos para as pastas do Desenvolvimento (Luiz Fernando Furlan) e Agricultora (Roberto Rodrigues) tinham sido eleitores de José Serra nas eleições presidenciais de 2002.
E o novo presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, acabara de se eleger deputado federal pelo PSDB-GO.