No curso da história do homem como ser social, no discurso político, sempre citamos as palavras, democracia, povo, lei, representatividade, justiça social, ética, integridade, igualdade e outras tantas carregadas de nobreza.
Infelizmente, com o descaso que grande parcela dos políticos tratou cada um dos princípios abordados e esperanças inferidas nestes vocábulos, parece sempre que repetimos palavras puídas, que se perdem da língua e fogem no momento das ações, restando ao povo apenas promessas de sonho e mais nada.
A verdade é que reuniões e debates servem como elementos de reflexão e memória, para que recordemos os motivos que nos trouxeram até aqui, que nos fizeram escolher a carreira de políticos e as agremiações às quais nos afiliamos.
Na maioria das vezes, com exceção às dinastias que vão se estabelecendo como em todas as profissões, é o desejo de defender os interesses de alguma classe social menos favorecida, ou mesmo aperfeiçoar o sistema de leis da sociedade, que o político ingressa nesta vereda.
Neste caminho, que escolhemos ainda jovens, buscamos modelos e exemplos de líderes que possam espelhar nossos ideais e agremiações que congreguem pares como nós, para que, juntos, tenhamos mais força na defesa dos interesses de nossos anseios.
Entretanto, a jornada do sonho colide com o choque do exercício do jogo político no cenário cotidiano. É lá que acordamos, que devemos crescer e entender o tamanho do debate, da negociação, dos meandros burocráticos, dos passos para a aprovação de um projeto de lei, da prática da oposição, do tédio dos adiamentos e das frustrações da promiscuidade.
Ora, infelizmente, esta é a verdade. A política é isto tudo. Para quem já viu, creio que o filme de Spielberg, “Lincoln”, bem exemplifica isto, com suas burocracias, com suas coalizões com os homens de boa vontade da oposição e até com suas negociações e negociatas.
Entre nossos colegas de profissão, encontramos aqueles que se alegram com cargos e verbas e assim votam, não para defender interesses do povo, ou melhorar nossa sociedade, mas para amealhar riquezas ou simplesmente manter o poder ou eternizar seu partido no comando das coisas.
Em resumo, políticos íntegros e dedicados acabam com um ônus já histórico. A percepção do político em geral como corrupto e milionário se espalha e denigre o trabalho daqueles que se dedicam a buscar o bem comum.
O que acredito que possa pautar e pontuar nosso caminho para que não nos desviemos e que lembremos que, além de tudo, e como força de agremiação política que podemos melhorar a sociedade, é continuar a nos espelhar nos mesmos líderes e modelos que sempre nos inspiraram.
No simples planejamento para este debate, revi o histórico vídeo do nascimento do PSDB e, além de emocionar-me com a vibração de luminares de nossa política nacional, ali entusiasmados, formando um novo partido de esperança em pleno 1988, revi a carta da fundação de nosso partido e o Manifesto ao povo e percebi que, todos nós, definitivamente, devemos relembrar o que nos trouxe até aqui, qual é a nossa lealdade, qual é o nosso ideal.
No recorte de nossa bússola moral, na constante vigilância interna de nossa probidade, na associação e coalizão com homens que professam as mesmas ideias poderemos ter a força necessária para exercer a ciência da política, como Platão a descreve:
“Ela é a ciência real. Ainda que não possuindo obrigações práticas, ela reina sobre as demais, unindo a sociedade num só tecido perfeito. O que ela consegue é graças à harmonia das leis que elabora. O objetivo de toda ciência política é eliminar ao máximo os maus elementos, conservando os porém os bons e úteis para então “fundi-los numa obra perfeitamente una por suas propriedades e estruturas.”
Floriano Pesaro – sociólogo, vereador e líder da bancada do PSDB na Câmara Municipal de São Paulo.