De recorde negativo em recorde negativo, o comércio exterior brasileiro vai afundando. O mau desempenho reflete uma visão tacanha a respeito da inserção externa do Brasil num mundo cada vez mais sem fronteiras. País fechado, como quer o governo petista, é país sem futuro.
A balança comercial brasileira teve, nos primeiros quatro meses de 2013, o pior resultado para o período em 18 anos. O rombo chegou a US$ 6,15 bilhões. Foi também o primeiro déficit para o primeiro quadrimestre desde 2001 e a pior marca para um mês de abril desde 1995. A coleção de péssimos resultados parece infinita.
Há uma combinação perversa em marcha: vendemos menos ao exterior, mas continuamos comprando muito. Enquanto as exportações caíram 3% entre janeiro e abril na comparação com os mesmos meses de 2012, as importações subiram 10%. Compra-se de tudo: bens de consumo aumentaram 23% em abril, com destaque para aquisição de quinquilharias como cosméticos, que subiram 55% no mês.
Já nossas vendas praticamente se limitam a matérias-primas. Bens de alto valor agregado, principalmente industriais, estão, cada vez mais, perdendo espaço na nossa pauta exportadora. Quanto maior o conteúdo tecnológico, maior a nossa dependência das importações: segundo o Iedi, só a indústria da transformação teve rombo de US$ 16,3 bilhões até março, 25% maior que no mesmo período de 2012.
Diante dos resultados colhidos até agora – que não seriam tão ruins se o governo federal não tivesse manobrado para maquiar os dados de 2012, postergando a contabilização de importações feitas pela Petrobras – já há dúvida até mesmo se a balança brasileira conseguirá fechar no azul neste ano. Isto depois de o saldo comercial já ter caído 35% em 2012, para US$ 19,4 bilhões.
Embora cadentes, as projeções de mercado colhidas pelo Banco Central ainda apontam perspectiva de superávit de US$ 10,2 bilhões até dezembro. Os números divulgados ontem, porém, já sugerem resultados bem menores ou até mesmo déficit, segundo a Folha de S.Paulo. Seria a primeira vez desde 2000 que isso aconteceria.
O mercado brasileiro está sendo, cada vez mais, abastecido por produtos importados, uma vez que a produção nacional, sobretudo a da indústria, não tem conseguido competir com os artigos estrangeiros. Trata-se de decorrência do pernicioso descompasso entre consumo interno em alta e oferta estagnada, que também está no cerne do recrudescimento da nossa inflação.
Na outra ponta, o comércio exterior brasileiro perde cada vez mais mercado no exterior. O Valor Econômico mostrou ontem que nossas vendas para destinos como China, Estados Unidos, União Europeia, Argentina e Chile estão caindo, a despeito de nossos parceiros continuarem comprando de outros fornecedores.
Antes superavitário, depois de uma década, o comércio com os europeus passou ao vermelho, numa virada que começou em 2011 e vem se aprofundando. O mesmo aconteceu nos negócios com os norte-americanos: saímos de um superávit de US$ 5 bilhões em 2002 para um déficit de US$ 5,6 bilhões em 2012. Como se percebe, estamos encolhendo.
Os resultados cadentes do nosso comércio exterior refletem as dificuldades de se produzir no país. Os insuportáveis custos e as ineficiências oneram em cerca de 35% os bens e serviços made in Brazil, segundo mostrou estudo divulgado pela Fiesp em março. É a nossa competitividade escorrendo pelo ralo em razão da logística caótica, da burocracia insana e de uma carga tributária sem concorrentes.
Mas há, sobretudo, as dificuldades de inserção do país no mundo resultantes da visão de mundo que emana do governo petista. Desde 2003, nossa política externa voltou-se para o umbigo, movida por preconceitos ideológicos e uma concepção equivocada do que seja ser uma grande nação no mundo contemporâneo.
Sob o PT, o Brasil se contenta em ser líder entre países da rabeira do mundo e não protagonista entre os líderes globais. Preferimos um abraço de afogados com os países do Mercosul do que acordos de livre comércio com países desenvolvidos – nos últimos anos, só firmamos pactos comerciais com Palestina, Egito, Jordânia e Israel, além de acordos limitadíssimos com Índia e África do Sul.
Não surpreende que o Brasil tenha perdido participação no comércio mundial em 2012 e seja hoje considerado um país extremamente protecionista, com adoção de barreiras que podem até beneficiar alguns setores eleitos, mas certamente acabam por penalizar os consumidores. O país não deveria se fechar. Deveria, ao contrário, tornar-se mais eficiente, competitivo, moderno, para ter capacidade de enfrentar seus concorrentes de igual para igual.