É o título de uma comédia romântica de 1967 dirigida pelo diretor norte americano Stanley Kramer. O filme tinha no seu elenco o talentoso Sidney Poitier. Invoco essa obra cinematográfica no contexto preocupante da inflação refletida à mesa do brasileiro. Até o momento, a atitude do governo em relação à inflação tem sido de tolerância e insustentável desdém. Não é demasiado lembrar que a inflação rompeu o teto da meta estipulada, chegando a 6,59% no acumulado em 12 meses.
A alta de preços de alimentos levou o consumidor a comprar menos nos supermercados, segundo Pesquisa Mensal do Comércio do IBGE. O recuo foi de 1% em fevereiro em relação a janeiro e de 2,1% sobre 2012. Foi a primeira redução desde março de 2009 e a mais intensa desde novembro de 2003, quando o país vivia uma crise cambial e, principalmente, de confiança no governo que se instalava. A escalada dos preços afugentou os consumidores das gôndolas dos supermercados.
Mas não é só a alta dos preços dos alimentos que deve merecer preocupação. O comércio, por exemplo, já sente os efeitos da corrosão do poder de compra com a forte alta dos alimentos e recuou 0,4% em relação a janeiro, e 0,2% em relação a fevereiro, primeiro resultado negativo desde novembro de 2003.
A presidente Dilma, durante um evento do Partido dos Trabalhadores, afirmou de forma taxativa que “a inflação está sob controle”. Diante das críticas à condução da economia, ela declarou que há “pessimistas especializados” em “criar ambiente para aqueles que se beneficiam da incerteza e enriquecem no desequilíbrio”.
É a retórica usual ditada pelo marketing e sem qualquer compromisso com a realidade. O desassombro da presidente Dilma é forjado com vistas às próximas eleições. Numa recente visita à capital gaúcha, ela sentenciou que a renda per capita brasileira vai dobrar até 2022, marco dos 200 anos da independência do Brasil. Um especialista na matéria alerta: “para que isso ocorresse, o Brasil precisaria crescer a taxas anuais superiores a 8%”.
A inflação da cesta básica é a maior em dez anos. O comprometimento do poder de compra dos que ganham o salário mínimo é crescente. Nos 12 meses encerrados em março, o valor da cesta básica nas principais capitais teve a maior alta da última década. Em São Paulo, subiu 23,1%, segundo o Dieese. No Rio, aumentou 22,7%; em Brasília, 22,5%, e em Salvador, 32,6%. Em março de 2012 o custo da cesta básica equivalia a 41,94% do salário mínimo e no mês de fevereiro a 47,81%.
A carestia pode ser observada no aumento verificado ao longo de um ano: farinha de mandioca aumentou 173% na capital sergipana; 181% em Fortaleza e 202% em Manaus. O feijão subiu 32% na capital cearense, 35% em Aracaju e 37% em Salvador. O pão francês aumentou 18% em São Paulo e 30% em Salvador.
A batata virou um artigo de luxo: subiu 150% em Goiânia, Belo Horizonte e Porto Alegre. Em 13 capitais o tomate superou 100%. A alta dos preços já afeta as vendas do varejo, reflexo da perda do poder aquisitivo do salário e da perda de confiança do consumidor.
As preocupações com a inflação e o despreparo do atual governo para enfrentar a crise que se agrava preocupam as pessoas mais lúcidas e atentas.
Nesse cenário, a simples menção no seio da família brasileira da chegada de um eventual convidado à mesa – Adivinhe quem vem para jantar? – é motivo de preocupação.