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Em discurso na tribuna da Câmara dos Deputados na tarde desta quarta-feira, 3, o presidente estadual do PSDB-SP, deputado Duarte Nogueira, afirmou que a reforma política “é mais uma nuvem de fumaça que Dilma tenta criar para se esquivar das manifestações”.
Nogueira fez um balanço das manifestações recentes e fez duras críticas à postura da presidente. “Milhares de pessoas saíram às ruas reivindicando melhoria no serviço público, no transporte urbano, na Saúde, na Educação, no combate à corrupção”, disse.
“Dilma gastou uma energia enorme durante uma semana para discutir o plebiscito. Aloizio Mercante, ministro da Educação, deveria estar cuidando melhor do desempenho de sua própria pasta, e não querendo posar como 1º ministro de um governo que está sempre querendo se justificar”, disse.
Para o presidente do PSDB-SP, Dilma parece não ter entendido o recado vindo das ruas e não apresentou nenhum resultado prático à sociedade. “Anteontem Dilma fez uma reunião com esse governo pesado que ela tem. A sociedade com certeza esperava algum resultado prático. E o que aconteceu? Alguma ação efetiva por parte da presidente? Não, não aconteceu absolutamente nada que fosse ao encontro daquilo que nós ouvimos ensurdecedoramente nas ruas do país. Nenhum sinal de que a presidente irá reduzir o número de ministérios. São 39 Ministérios; você precisa usar quatro vezes as suas mãos para chegar ao número de ministérios da presidente”, afirmou Nogueira.
“Só falta a Dilma anunciar o 40º ministério, que é o ministério para nomear o marqueteiro dela, o senhor João Santana. Este seria o “ministério da Desculpa”, ou seja, o ministério para tentar explicar a ineficiência dos outros 39, que não funcionam”, continuou.
Nogueira ainda lembrou que o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, tomou as atitudes necessárias diante do clamor da população, diferentemente da presidente da República. “O governador Geraldo Alckmin extinguiu uma Secretaria de Estado, fundiu três fundações, cortou cargos comissionados, extinguiu uma empresa estatal na área do turismo e extinguiu outra autarquia como forma de reorganizar a Máquina administrativa para, sem prejuízo dos investimentos públicos, fazer aquilo que o povo espera que seu governo faça. Isso tudo a gente não viu por parte da presidente Dilma. Parece que ela não entendeu o recado”, ressaltou Duarte Nogueira.
Confira a íntegra do discurso:
A presidente Dilma Rousseff enviou ontem uma – digamos – sugestão ao Congresso Nacional de pontos para um plebiscito sobre reforma política.
E engraçado é que na carta que enviou, a presidente Dilma até começou bem, registrando que milhares de pessoas saíram às ruas reivindicando a melhoria na prestação de serviços públicos no transporte urbano, saúde, educação, no combate à corrupção e mudanças no sistema de representação política.
No entanto, de todos esses temas, a presidente escolheu se dedicar justamente ao que não é prerrogativa dela e o que não era a principal reivindicação das ruas – convocar um plebiscito sobre reforma política.
E gastou toda a sua energia durante uma semana para discutir o assunto. Junto com ela nesta empreitada, estava o ministro da Educação, Aloizio Mercante, que, aliás, deveria estar cuidando de melhorar o desempenho da sua pasta.
Se o ministro da Educação se dedicasse à Educação, já seria uma boa forma de a presidente Dilma demonstrar que ouviu as vozes das ruas.
Anteontem, a presidente Dilma fez uma reunião com o seu paquidérmico governo. E com certeza, a sociedade, que foi para as ruas, esperava algum resultado prático, alguma ação efetiva por parte da presidente. Mas nada aconteceu.
Nenhum sinal de que a presidente irá reduzir o número de ministérios, que hoje são 39. No final do governo Fernando Henrique Cardoso, eram 24. Lula criou 11 e Dilma, outros 4. Tudo para acomodar aliados e companheiros e já preparar a formação de palanques para as eleições do ano que vem.
E para manter essa estrutura funcionando, o custo é altíssimo, chega a R$ 611 bilhões, segundo reportagem do jornal O Globo da última segunda-feira.
Aliás, só falta a presidente Dilma anunciar a criação do 40º ministério para nomear seu marqueteiro, João Santana. Seria o Ministério da Desculpa, para tentar explicar a ineficiência dos outros 39.
Também não houve nenhum sinal de que a presidente irá diminuir o número de cargos de livre nomeação, que hoje somam 22.417, um recorde.
E o dinheiro que o cidadão paga de imposto é utilizado em grande parte para bancar esse elefante branco que se transformou a máquina pública federal – gigante, lenta e ineficiente.
Ou seja, a reforma política é mais uma nuvem de fumaça que a presidente Dilma quer criar na tentativa de se esquivar das reivindicações das ruas. Ações efetivas, nenhuma.
Muito diferente do que fez o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin – extinguiu secretaria, fez a fusão de três empresas, cortou cargos comissionados. Tudo para cobrir a redução da tarifa dos trens e metrôs, que a população apontou ser prioridade.
E o governador assim agiu porque não adianta baixar a tarifa cortando investimentos. A população acaba sendo prejudicada do mesmo jeito. É necessário cortar gastos, desperdício, fazer a máquina governamental agir com eficiência. Não há mágica na administração pública e nem máquina de fazer dinheiro: se não houver corte de despesa, alguém paga a conta e esse alguém é sempre o contribuinte.
O que as pessoas que foram às ruas querem é algo simples. É a ação meritocrática, coisa que o brasileiro faz todos os dias – acorda cedo, vai trabalhar, enfrenta horas no trânsito ou no ônibus, na espera do posto de saúde. Chega em casa à noite, cansado, com a sensação de injustiça, e se pergunta – para onde vai o dinheiro que eu pago de imposto se os serviços públicos se os serviços públicos não me atendem?
Este cidadão, que tem todas as origens, idades, mora em todas as regiões do país, foi o que entendeu, a partir do Plano Real para cá, a importância da política de enfrentamento da inflação.
Este mesmo cidadão, que é, ao mesmo tempo, consumidor e contribuinte, foi às ruas reivindicar os seus direitos, dar um basta no enorme descompasso que existe entre o Brasil que prosperou e a qualidade dos serviços públicos.
Mas a presidente Dilma parece não ter entendido o recado das ruas. Depois da reunião ministerial limitou-se a dizer que não fará demagogia com o corte de gastos. Ela não fará, na verdade, corte algum. Irá manter a velha estrutura governamental – gigante e ineficiente – condenada pelas ruas, mas que atende ao seu propósito de montar um palanque para as eleições do ano que vem.
E enquanto a presidente passou a semana se ocupando com a reforma política, a economia brasileira continuava a emitir sinais de que não vai bem.
No mês passado, a produção industrial apontou caiu 2% em relação ao mês de abril, eliminando, assim, parte da expansão de 2,6% acumulada nos meses de março e abril. A redução no ritmo da atividade industrial em maio se deu de forma generalizada, atingindo a maioria 20 dos 27 ramos industriais. São dados do IBGE divulgados ontem.
A balança comercial brasileira acumulou, de janeiro a junho, um saldo negativo de US$ 3 bilhões. Foi o pior resultado nos últimos 18 anos.
Pela sétima semana consecutiva, o Boletim Focus reduziu a estimativa do PIB para este ano. A previsão agora é que a economia cresça 2,4%, bem distante dos 3,5% estimados pelo governo no início deste ano. E enquanto o PIB diminui, a expectativa de inflação aumentou para 5,87%.
E o que faz o governo? Sinaliza que vamos ter mais dois anos de inflação alta e política frouxa, depois dos últimos dois anos com preços em alta e crescimento medíocre. O governo do PT permitiu que a inflação voltasse. O Brasil tem hoje a maior inflação entre todos os países da América Latina. Só perde para a Venezuela.
E hoje li uma reportagem que mostra que, sem dinheiro e sem querer cortar gastos, o governo vai optar por aumentar impostos. Se confirmada, esta será a primeira ação efetiva da presidente Dilma após as manifestações e será exatamente o contrário do que reclamaram as ruas.
A população não aguenta mais pagar impostos, mas o governo federal finge não entender isso por um motivo bastante simples: se tiver de escolher entre o que quer a sociedade e o que deseja o PT, ficará com o PT. E o que quer o PT? Manter-se no poder a qualquer custo, especialmente se a conta é paga pela sociedade.
O que permitiu que o Brasil prosperasse a partir do Plano Real, que completou 19 anos na última segunda-feira, foi a manutenção do tripé – câmbio flutuante, que é uma espécie de cidadania global; metas de inflação, para evitar a corrosão da renda, especialmente das pessoas mais pobres; e o superávit primário, que é um indicador da saúde financeira das contas públicas.
A presidente Dilma está jogando por terra esses princípios: manipula o câmbio, aceita a inflação elevada, torra o dinheiro público para manter os 39 ministérios.
A única inovação que o governo implantou até agora foi a maquiagem nas contas públicas, conhecida como contabilidade criativa, que enterra a credibilidade do Brasil perante o mundo. E neste malabarismo fiscal para fechar as contas, o governo está antecipando recebimentos, o que pode comprometer a receita dos próximos anos.
Para tentar fazer a economia crescer, o governo insiste numa fórmula que já se esgotou: desonerações pontuais, que não surtem os efeitos esperados, e alargamento do consumo por meio do crédito fácil, via bancos oficiais.
Com a inadimplência das famílias aumentando por causa do endividamento e do comprometimento da renda da população, o consumo está esfriando e o governo se mostra incapaz de enxergaroutro caminho para fazer a economia crescer.
Sem investimentos, sem rigor fiscal, sem o controle da inflação, o país não vai crescer. Mas está tarefa é mais difícil, coisa que não interessa ao PT. O fato é que o PT de Lula e de Dilma não fez outra coisa nestes últimos 11 anos, senão campanha eleitoral com o único propósito de permanecer no poder.
O povo nas ruas mostrou que tudo isso precisa mudar. E de olho na próxima eleição, membros do próprio PT, partido da presidente Dilma, começa a avaliar a possibilidade de substituí-la, numa espécie de queremismo getulista. Este é mais um sinal de que o PT poderá rejeitar o próprio PT na tentativa de se manter no poder.
Tenho certeza de que a sociedade que foi às ruas não espera que a presidente Dilma dedique todo o seu tempo à reforma política ou que reúna o seu paquidérmico governo para fazer apenas diagnósticos. A sociedade espera que ela tome decisões, que tenha a coragem de governar.