Criado com o objetivo de levar atendimento médico aos recantos mais extremos do país, o programa Mais Médicos tem negligenciado as cidades com os piores indicadores sociais. No estado de São Paulo, a distribuição dos primeiros 134 profissionais do programa mostra que as cidades com os menores Índices de Desenvolvimento Humano (IDH) ficaram de fora da primeira fase, enquanto a maioria entre as 33 cidades contempladas tem altos números de desenvolvimento. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo (9).
A publicação traz como exemplo o município de Barra do Turvo, no Vale do Ribeira, segunda pior cidade paulista em indicadores sociais, entre 645. Apesar de estar na lista de inscritos, a cidade não foi uma das contempladas com novos profissionais.
Já o município com o maior IDH de São Paulo e do Brasil, São Caetano do Sul, foi escolhido para receber dois médicos brasileiros. Santo André, em sétimo lugar no ranking paulista, também terá um brasileiro e um estrangeiro.
Segundo o Ministério da Saúde, um dos critérios para se enquadrar no programa é que o município tenha 20% ou mais da população vivendo em situação de alta vulnerabilidade social. Ainda assim, a maioria das cidades atendidas está na Grande São Paulo ou na região de Campinas, áreas que detêm os maiores indicadores de desenvolvimento econômico do estado.
Para o deputado federal Vanderlei Macris (PSDB-SP), é uma incoerência não atender cidades com maior vulnerabilidade social, onde, do ponto de vista estatístico, há uma clara necessidade de atendimento urgente.
“Esse [Mais Médicos] não me parece um programa sério quando se olha sob essa ótica. O governo acaba dando razão ao tipo de discurso de que o Mais Médicos é ideológico, político e que interessa ao governo apenas do ponto de vista eleitoral”, considera.
O tucano avalia como “desfaçatez e deboche da opinião pública” lançar um programa que não diz a que veio, vai contra tudo o que os médicos defendem e que não tem como contrapartida uma estrutura mínima para que os profissionais atuem.
“Os médicos cubanos farão atendimentos que poderiam ser feitos por brasileiros especializados na área de enfermagem. Pior e mais grave que negligenciar a mão de obra do país é usar o problema da saúde de maneira política e não atender o objetivo principal, especialmente em São Paulo, onde ao PT não interessa o atendimento às pessoas que mais precisam”, completa.


