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Quem te viu, quem te vê

O PT anda irreconhecível. Dia desses, nos jornais, a presidente Dilma deixou de lado a ladainha da herança maldita e se autoparabenizou pela manutenção do (até então achincalhado) tripé da estabilidade econômica: câmbio flutuante, metas de inflação e superávit primário. É curiosa essa conversão súbita, ainda que tardia, à cartilha da responsabilidade deixada pelo PSDB.

A privatização do campo de Libra, na última segunda, apesar do atraso e da tibieza das regras, responsável pelo interesse de um único consórcio e pelo lance a preço mínimo, é outro destes momentos de bem vinda transmutação.

Com a Petrobras endividada e a indústria do petróleo em ponto morto, o Brasil só pode aplaudir este outro momento “quem te viu, quem te vê” do PT.

As riquezas da exploração do pré-sal serão muito importantes para o país e para a recomposição da Petrobras. Porém, não vão resolver num estalar de dedos nossos problemas.

A exploração do campo de Libra só vai se tornar efetiva em cinco anos. Até lá, o país continua travado por um emaranhado de problemas estruturais que este governo obviamente não tem ideia de como resolver.

O PT que não consegue mudar, mesmo diante da cobrança pública dos eleitores, é o que insiste em misturar as prerrogativas do Estado com os destinos de seu projeto político.

O pronunciamento em cadeia nacional, na noite de segunda, eivado de ufanismo e auto-exaltação, é destes momentos embaraçosos para a democracia. Ver este canal de diálogo institucional usado para criar uma catarse emotiva e pessoal é lamentável.

Esse ciclo maníaco do PT, que tenta soterrar a realidade com doses crescentes de propaganda, revela uma indiscutível fadiga. O posicionamento muda como o vento. Das antigas bandeiras ao discurso republicano, vai tudo sucumbindo a um pragmatismo sem peias e sem vergonha. As soluções vão sendo empilhadas num futuro, colorido pelos marqueteiros, cada vez mais distante. Quem te viu, quem te vê, PT.

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