Mais uma vez os fatos demonstram que o ministro da Justiça, Eduardo Cardozo, não tem condições de permanecer no cargo. Falta a ele o respeito e a liturgia republicana que o cargo que ocupa demanda e exige. Em um vale tudo eleitoral com objetivo único de atingir o PSDB, o ministro ou setores a ele ligados apresentam uma nova carta anônima, que teria sido enviada do exterior, para tentar remontar a farsa, já amplamente desmontada na semana anterior.
Segundo a revista Veja, duas cartas anônimas enviadas à Embaixada do Brasil em Tóquio, no Japão, supostamente por funcionário da empresa Mitsui relatam formação de cartel e pagamento de propinas em São Paulo e no projeto de trem bala do governo federal. O mesmo expediente foi usado para denunciar a Siemens: uma carta anônima foi enviada ao ombudsman da empresa na Alemanha. Neste caso, a carta traduzida para o português foi adulterada para a inclusão dos termos PSDB e Governo de São Paulo.
Assim como todos os brasileiros, o PSDB também quer a apuração aprofundada dos fatos relatados. Mas que ela seja feita de forma isenta e com responsabilidade e não de maneira dirigida e aparelhada, voltada exclusivamente para criar uma cortina de fumaça em torno da vergonhosa prisão dos mensaleiros do PT.
Da mesma forma é fundamental que a Polícia Federal – o que não será possível sob a batuta de Cardozo – investigue as ligações relatadas na carta entre os supostos envolvidos no cartel do setor metroviário e o projeto federal para o trem bala, cujo orçamento é de R$ 35,6 bilhões e que deve consumir cerca de R$ 1 bilhão antes mesmo de sair do papel. Aqui, mais uma vez, Cardozo se omite, já que se trata de investigar e denunciar o governo federal, do qual é ministro nomeado.
Além disso, é igualmente urgente que a mesma Polícia Federal investigue a fundo as relações perigosas do ministro com os lobistas Arthur Teixeira e Sérgio Teixeira, já denunciados no inquérito, conforme noticiado hoje pelo jornal Correio Braziliense, que aponta encontros do ministro com Arthur Teixeira quando era deputado federal.
Cardozo deve à sociedade explicações sobre seu relacionamento com os envolvidos. Do contrário, coloca em suspeição ainda maior a investigação conduzida por setores de sua pasta. As relações perigosas do ministro com envolvidos no caso demonstram claramente a impossibilidade de se manter no cargo.
“É inadmissível que o ministro mantenha relação com os investigados, alegue falta de memória sobre o assunto e ainda insista em se manter na condução do processo de investigação mesmo sendo parte envolvida e interessada na defesa de seu partido”, afirmou o deputado federal Duarte Nogueira, presidente estadual do PSDB.
É preciso, portanto, o afastamento imediato do ministro para que as investigações sejam conduzidas de forma clara e transparente, sem o uso político-partidário das ferramentas democráticas e republicanas de apuração.