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O PT em fase terminal

Para uma análise do quadro atual do processo de eleição do presidente da República, vamos fazer uma breve e resumida retrospectiva das pesquisas deintenção de voto para as eleições passadas, a partir de 1970.   Entre 1970 e 1986, como não tínhamos eleições diretas a não ser para o Senado trataremos,  entre 1970 e 1978 das eleições para o Senado e, entre 1982 e 1986 das eleições para o governo estadual, em São Paulo.  Em seguida veremos as eleições presidenciais de 1989 até hoje.

Em 1970,  concorriam a duas vagas para o Senado em São Paulo, Lino de Mattos, Franco Montoro e Orlando Zancaner.  Lino, candidato a reeleição, era tido com imbatível, o primeiro nas pesquisas feitas meses antes das eleições.  O resultado foi a vitória de Montoro, com Zancaner ganhando a segunda vaga.

Em 1974, a disputa ao Senado era para apenas uma vaga.  Carvalho Pinto, ex governador, amplamente favorito, estava à frente nas pesquisas.  Orestes Quercia, ex prefeito de Campinas, um azarão, iniciou a disputa com 2% de intenções de voto.  Resultado: Quercia eleito com ampla maioria.

Em 1978, disputa de uma  vaga para o Senado, pois a ditadura havia criado uma vaga para um senador eleito pelo voto indireto ( os senadores biônicos ).  Montoro favorito à reeleição ( com Fernando Henrique Cardoso em uma das sub legendas do MDB ) venceu Claudio Lembo, candidato da Arena, com ampla margem.  Resultado previsível desde o início.  Nesse ano foi eleito governador indireto Paulo Maluf.

Nessas três eleições para o Senado em São Paulo o resultado foi previsível apenas na última, desde o início das pesquisas.

Em 1982, na eleição para governador de estado, Franco Montoro, do PMDB, foi o favorito desde o início, e derrotou Reinaldo de Barros do PDS ( antiga ARENA ), Janio Quadros e Lula,  este na primeira tentativa do PT.

Em 1986, a disputa se inicia com [Paulo] Maluf à frente nas pesquisas e [Orestes] Quércia logo atrás.  Aparece Antonio Ermírio de Moraes que cresce ameaçando Maluf enquanto Quércia cai para menos de 10%.  Mas a 60 dias das eleições Quércia arranca e vence a eleição, ficando Antonio Ermírio em segundo.

Nesses casos houve um resultado previsível e outro que, depois de muitas variações, terminou de forma não prevista.

Em 1989, temos a primeira eleição presidencial direta após a ditadura.  As pesquisas iniciais mostravam a força de Leonel Brizola.  O PMDB apresenta Ulisses Guimarães, em tese um forte candidato.  O PSDB apresenta Mario Covas, senador de muito prestígio.  Lula é o candidato do PT.  E Collor de Mello, deputado federal de atuação apagada, aparece por um partido nanico sem, aparentemente, qualquer possibilidade eleitoral.

A campanha faz alternar posições e, já na reta final, parecia que Brizola e Collor chegariam ao segundo turno.  No entanto Lula cresce, passa Brizola e vai para o segundo turno, com Collor terminando em primeiro lugar.  No segundo turno, no início das pesquisas, Collor aparece à frente de Lula com larga distância. Há poucos dias da eleição Lula encosta em Collor e ameaça ultrapassá-lo.  Nos debates finais Collor faz acusações a Lula que lhe possibilitam a vitória.

Vale observar que no ano seguinte, 1990, o PMDB vence a eleição para governador do Estado de São Paulo com Luiz Antonio Fleury Filho, derrotando o aparentemente imbatível Paulo Maluf no segundo turno.  No primeiro turno Fleury chegou em segundo lugar derrotando Mario Covas ( PSDB ) e Plinio de Arruda Sampaio ( PT ), mas no segundo turno supera Maluf.

Em 1994, no mês de abril,  as pesquisas de intenção de voto indicavam vitória de Lula (PT) com 40%, e pouco mais de 12% para Fernando Henrique (PSDB)  .  Em julho é lançado, com o sucesso, o plano real.  FHC cresce e vence o pleito no primeiro turno, derrotando também Brizola e Quércia.  Virada total.

Em 1998,  FHC, candidato à reeleição, vence com facilidade no 1º turno contra Lula e Ciro Gomes.  Resultado previsível desde o início da campanha.

Em 2002, Lula aparecia como o favorito desde o início do processo eleitoral.   Em um momento foi ameaçado por Roseana Sarney, que desistiu em função do escândalo “Lunus”, e em outro por Ciro Gomes que foi se esvaindo paulatinamente.  José Serra, que começou com baixos índices, foi subindo e conquistou o segundo lugar.  Não obtendo maioria absoluta, Lula foi ao segundo turno que lhe deu o primeiro mandato presidencial.

Em 2006, Lula aparecia nas pesquisas em primeiro lugar com Geraldo Alckmin em segundo e assim terminou o primeiro turno.  Um bom percentual de votos de Heloisa Helena levou a eleição para o segundo turno.  Este é vencido por Lula com uma votação expressiva.

Em 2010 , Dilma começa em baixa nas pesquisas com Serra na frente.  Só em junho/julho de 2010  Dilma consolida a dianteira, com Marina crescendo. Dilma vence no primeiro turno, mas não consegue a maioria absoluta.  No segundo turno ela vence Serra com uma diferença de 12% .

Em três dessas seis eleições presidenciais desde a redemocratização os resultados finais foram, em dimensões variadas, os previsíveis pelas pesquisas.  Nas outras três muitas mudanças se deram e o que se viu no final não foi o que as pesquisas indicavam no início do processo eleitoral, com meses de antecedência.

Muitos outros exemplos poderiam ser dados com resultados eleitorais para governadores e prefeitos em diversas épocas e em diversos lugares.  A regra geral é não haver correspondência direta entre resultados de pesquisas de opinião feitas com meses de antecedência e os resultados eleitorais concretos.

Os resultados eleitorais se dão em função de um número imenso de variáveis, algumas objetivas em função das condições da economia, do quadro social e das alianças políticas.  Dependem, também, da forma e do conteúdo das campanhas eleitorais.  Além disso, são condicionantes importantes o comportamento dos candidatos, os seus históricos e os episódios que os atingiram durante a sua vida, política ou mesmo como cidadão.

Dessa forma as pesquisas de opinião que se fazem sobre a eleição presidencial de 2014 podem indicar o estado da arte atual, momentâneo, estático.  Como se viu – e como está sendo constatado – a evolução das pesquisas é imprevisível.   Centenas de fatos e acontecimentos se darão e vão impactar, cada vez mais nas proximidades do pleito, o resultado final.

Por isso é falso afirmar qualquer favoritismo da presidente Dilma.  Muita água ainda vai passar debaixo da ponte.

Há, a meu ver, um fato que considero inelutável: o ciclo do PT se encerrou.  É fase terminal.  Estamos em um momento de transição e um outro bloco de poder hegemônico ainda não se formou.   Mas se formará.   Isso pode se dar já a partir de outubro desse ano, ou não.  Poderemos conviver ainda algum tempo com a reeleição da presidente – não são favas contadas, na certeza de crises políticas em futuro próximo.

Mas isso não será bom para o país.  O melhor é que esse governo petista, e suas alianças, em franca decomposição – há um processo em ebulição na alma profunda do povo –  seja o mais cedo possível substituído por um novo bloco de poder, com capacidade para enfrentar a herança maldita que vai receber e construir os caminhos da superação.

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