Início Eleições 2012 Interferência política compromete credibilidade de institutos oficiais de pesquisa, alertam deputados

Interferência política compromete credibilidade de institutos oficiais de pesquisa, alertam deputados

Nem os institutos de pesquisa escapam do perigoso aparelhamento e da interferência política do governo Dilma. Institutos consolidados, como IBGE e Ipea, tiveram a credibilidade afetada pela intromissão da gestão do PT. Parlamentares do PSDB dizem que tal intervenção é grave e demonstra mais uma das práticas antirrepublicanas do governo petista, que usa a estrutura pública a favor de interesses privados.

O presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves (MG), criticou os rumos seguidos pelos institutos. Em sua coluna semanal no jornal “Folha de S. Paulo”, o mineiro disse que o nível de aparelhamento nas empresas é tal que já começa a ameaçar a credibilidade dos estudos das instituições. “O assunto é grave”, disse. Segundo ele, essas entidades “não podem ter interrompida esta importante trajetória”.

Os problemas nos institutos se acumulam e atingiram o ápice na semana passada com a decisão do IBGE, motivada por interesses políticos, de suspender a divulgação da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), que passará a medir a taxa de desemprego no país, até janeiro do próximo ano. Como destaca o Instituto Teotônio Vilela (ITV) em análise divulgada nesta segunda-feira (14), o anúncio detonou uma crise entre os profissionais do órgão – duas diretoras pediram demissão e 18 coordenadores e gerentes ameaçam fazer o mesmo – e lançou dúvidas sobre uma possível manipulação de resultados pelo IBGE.

A Pnad Contínua passou a ser divulgada em janeiro último e deveria substituir a Pesquisa Mensal de Emprego (PME) como fonte de cálculo da taxa de desemprego no país a partir do fim deste ano. Mas a publicação dos primeiros resultados causou desconforto ao Planalto, ao mostrar índices de desocupação mais altos que os da PME. Segundo a Pnad Contínua, de abrangência nacional, a taxa de desemprego no país fechou 2013 em 7,1%, acima, portanto, dos 5,4% aferidos pela PME, que abrange apenas seis capitais. Nesta segunda, técnicos do Instituto envolvidos na confecção da pesquisa divulgaram carta aberta à população em que negam a necessidade de revisar a metodologia da pesquisa.

Convocação de ministra

A suspensão da Pnad Contínua até 2015 deu-se em resposta a requerimento dos senadores Armando Monteiro (PTB-PE) e Gleisi Hoffmann (PT-PR). Eles sustentam que um dos cálculos poderia comprometer repasses para os estados. Presidente do PSDB-SP, o deputado Duarte Nogueira (SP), cobra explicações da ministra do Planejamento, Miriam Belchior, para esclarecer a suspensão das divulgações da pesquisa. “É triste ver que, mais uma vez, o governo do PT conseguiu estragar e contaminar a conduta de um instrumento de avaliação estatística reconhecido internacionalmente, como é o IBGE Se o Ministério do Planejamento não se pronunciar, vamos trazer a ministra para depor”, alertou.

Para o deputado José Aníbal (SP), os institutos de pesquisa sofrem com a “destruição provocada por escolhas equivocadas e erros grosseiros” pela qual passou a Petrobras, maior símbolo do aparelhamento e manipulação. “É impressionante a compulsão manipuladora, autocrática e ditatorial. Eles têm horror ao contraditório e procuram resolver isso de toda maneira. Não aceitam as instituições como do Estado e querem transformá-las em instituições do PT e de sua camarilha. Essa é a realidade”, criticou o tucano.

Para o deputado, a interferência brutal em todas os órgãos nada tem a ver com democracia. “É uma ruína essa gestão e não vão ter como segurar isso. Não adianta essa falácia ideologizante e reacionária. É tudo conversa fiada. Tudo hoje cheira a negociata, manipulação e aparelhamento descarado. Estou impressionado até onde eles foram”, disse.

Institutos têm sido usados a serviço de partidos. Outro órgão de pesquisa, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), passou por um vexame ao ter que divulgar uma grande errata sobre resultados de pesquisa envolvendo violência contra a mulher. O percentual dos que concordam total ou parcialmente com a ideia de que mulheres com roupas provocantes devem ser atacadas foi revisto de 65% para 26%. O primeiro resultado divulgado levou o país a ser notícia por todo o mundo.

“Os institutos de pesquisas, que servem para analisar os prós e os contras das políticas públicas, não podem ser manipulados. Isso modifica o foco das ações, desestabiliza a transparência dos atos”, afirma Raimundo Gomes de Matos (CE). Em sua avaliação, a crise nos institutos compromete a qualidade das estatísticas e causam impactos na avaliação e nos estudos da conjuntura e, consequentemente, na definição de políticas adequadas à realidade.

“Querem que nosso modelo de gestão seja igual ao de Cuba ou Venezuela, sem transparência. A indicação de pessoas sem qualificação para esses órgãos gera suscetibilidade das instituições”, ressalta. O IBGE, por exemplo, sofre com estrutura deficiente, falta de pessoal, orçamento minguado e recursos rotineiramente contingenciados, mostrou o jornal “Valor Econômico” nesta segunda-feira (14).

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