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Entrevista: Miguel Haddad, ex-prefeito de Jundiaí

A liderança nacional – que, até pouco, cabia à Região Metropolitana de São Paulo, considerada a locomotiva da economia brasileira – hoje está nas mãos do interior de São Paulo. O quadro mudou e não só em termos econômicos, mas também em saneamento básico, educação e inovação. Em seu livro “Coisa de Paulista”, lançado esta semana em Jundiaí, o ex-prefeito Miguel Haddad noticia e analisa o significado dessa mudança. E, ao fazer isso, aponta um caminho para o País. Veja entrevista:

 

PSDB: Você é conhecido – e reconhecido – como um gestor público eficiente, ex-prefeito por três vezes de uma cidade modelo em termos de administração pública. De onde veio a ideia de escrever um livro?

Miguel: Quando começamos a elaborar o trabalho, há quatro anos, o protagonismo do interior paulista não era tão claro como é agora.  Pude antecipar essa mudança porque Jundiaí, que nos últimos anos subiu muito nos rankings feitos por institutos nacionais e internacionais que monitoram o desenvolvimento e a qualidade de vida das cidades, estava sempre acompanhada de cidades paulistas, que também se destacavam.  A partir daí não pude deixar de perceber o enorme significado do que estava acontecendo no interior de São Paulo, o que me permitiu antecipar essa mudança. Passei então a coletar os dados que contavam essa história. Daí para a ideia de colocá-los em um livro foi um pulo.

PSDB: Por que “Coisa de paulista”? De onde veio essa ideia para o título?

Miguel: Muita gente conhece a expressão. Ela deve ter surgido, imagino, em razão do pioneirismo do nosso Estado na industrialização e engajamento no livre mercado. Por causa disso, ficamos, tanto aqueles que nasciam aqui como aqueles que vieram para cá, com a fama de empreendedores, desejosos de subir na vida e ganhar dinheiro.

Com o tempo, acompanhando o crescente dinamismo da economia nacional, o que antigamente era coisa de paulista passou a ser coisa de brasileiro. Segundo pesquisas recentes, somos um dos povos que mais anseiam empreender no mundo.

No livro, emprego o termo como um conceito, para traduzir esse espírito pragmático, que tanta falta tem feito ao Brasil, que perde sucessivas oportunidades, como está acontecendo agora. Veja a questão das privatizações: perdemos anos e anos por causa do fundamentalismo ideológico. Querem separar o desenvolvimento econômico do desenvolvimento social. As pesquisas já mostraram que a qualidade de vida aumenta com a inserção no mercado e diminui quando isso não acontece. O que distribui renda e diminui a injustiça é o aumento da renda e do salário.  É claro que precisamos de medidas assistenciais para aqueles que não conseguirem tomar esse bonde. Mas uma coisa não é contra a outra. Essa é que é a questão. Pensar assim, agir assim, com esse pragmatismo, que hoje é, cada vez mais, coisa de brasileiro, antigamente era visto como coisa de paulista.  Ainda bem que hoje não é mais. A presidente Dilma, quando dá início ao programa de privatizações petista – embora, como disse, com um atraso que compromete a eficácia dos resultados – dá, mesmo a contragosto, esse sinal.

PSDB: Qual a importância, para os brasileiros, de tomarem conhecimento do que se passa hoje no interior de São Paulo?

Miguel: Atualmente muita gente se pergunta, vendo o que acontece com o PIB, com a Petrobrás e com a Eletrobrás (que apresentam um rombo multibilionário, depois do aparelhamento petista) se o Brasil tem jeito. Como digo em meu livro, o que está acontecendo no interior de São Paulo mostra que sim. O interior paulista é o Brasil que dá certo. Ao registrar a posição de liderança alcançada pelo interior paulista tanto na área econômica como em itens básicos como educação, saneamento e inovação, vi nisso um exemplo para mostrar de maneira clara, direta e objetiva, sem qualquer pretensão acadêmica, com a visão de um prefeito do interior, que o desenvolvimento social efetivo, contínuo e real é parceiro do desenvolvimento econômico. Como diz Jorge Caldeira, na apresentação do livro, a obra tem muito a ver com o ponto de vista segundo o qual o sucesso dos casos municipais servem de modelo para o tratamento do todo nacional, de uma maneira na qual a tensão entre o sucesso local e as agonias gerais não se resolvem pela afirmação de princípios. A busca é de uma solução pragmática para irrigar o poder central dos modos de atuação que estão tendo sucesso no âmbito local.

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