A disputa eleitoral começa a entrar em sua fase aguda. Como sempre, em função das pesquisas, que mostram um quadro momentâneo, alguns cantam vitória antecipada. Outros, quando a derrota lhes parece inevitável, entregam-se, seja por desânimo, por indigência intelectual ou por puro oportunismo, e passam a procurar o “menos pior”.
É o que acontece com a disputa presidencial deste ano. Em razão de um triste episódio –a morte de Eduardo Campos–, surgiu uma nova candidata, Marina Silva (PSB), que aparece em primeiro ou segundo lugares nas pesquisas, como se fosse uma das contendoras inevitáveis no segundo turno.
Minha experiência é repleta de episódios de disputas em que profundas modificações se dão no processo eleitoral, produzindo grandes mudanças na intenção de voto dos eleitores até o dia da votação. Já assisti a isso em eleições em todos os níveis. Fernando Henrique perdeu a eleição para prefeito de São Paulo nas 48 horas que antecediam a eleição de 1985. Luiza Erundina venceu o pleito municipal em São Paulo, em 1988, na última semana, atropelando Paulo Maluf e João Leiva.
Em 1989, na sucessão de José Sarney, tudo fazia crer que Brizola venceria. Para surpresa geral, o desconhecido Fernando Collor cresceu, acompanhado de Lula. Os dois foram para o segundo turno e Brizola ficou de fora. Na última disputa municipal em São Paulo, o azarão Celso Russomano parecia imbatível, disputaria sem qualquer dúvida o segundo turno. Não foi o que ocorreu.
O caso mais emblemático que vivi semelhante com o que está ocorrendo até agora foi em 1986, na disputa ao governo de São Paulo. O quadro no início da campanha era Maluf em primeiro, Orestes Quércia logo atrás. Inesperadamente, e já próximo à data da eleição, o PTB lançou Antônio Ermírio de Moraes, empresário de respeito, que imediatamente apareceu em segundo, muito perto de Maluf, jogando Quércia para baixo (com 9 % nas pesquisas).
Quércia parecia liquidado, a questão seria escolher Maluf ou Antônio Ermírio (não havia segundo turno) e muitos bandearam-se para o empresário, considerado o “mal menor”. O resultado final foi Quércia vitorioso, Antônio Ermírio em segundo e Maluf lá atrás.
O processo eleitoral é complexo e muitos fatores alteram a intenção dos eleitores expressa nas pesquisas quase que de um dia para o outro. A pesquisa não tem o dom de prever o futuro, apenas retrata o presente. Na atual eleição presidencial, a mobilidade das intenções de voto dos eleitores é patente, e não poderia ser de outra forma.
Alguns números são relativamente estáveis, como o índice de rejeição da presidente Dilma Rousseff, que fica acima de 30%, com menos de 40% das intenções de voto a seu favor e a vontade de mudança expressa por 70% do eleitorado. Mas está em evolução o nível de conhecimento de Aécio Neves, ainda baixo, ao contrário dos índices altos de Dilma e Marina.
O que se vê hoje é o embate em que se meteram as duas respeitáveis candidatas que, se de um lado mostra um espetáculo pouco edificante na disputa eleitoral, por outro mostra o caráter e a personalidade de cada uma. Enquanto isso, Aécio acertadamente apresenta sua história e suas propostas.
Haverá um momento em que o eleitor se perguntará sobre quem é o melhor, levando em conta seus perfis e o que pensam das questões que são realmente importantes para a vida dos brasileiros e para o futuro da nação: petróleo, infraestrutura, preços, salários, inflação, crescimento econômico, democracia, valores éticos, escândalos. Tudo isso há de influir na decisão do eleitor.
Essa mobilidade já se mostrou nas primeiras semanas de campanha e se aprofundará nas seguintes à medida que a data fatal se aproxima. Quanto mais perto dela, mais a atenção do eleitor e mais decidida passa a ser sua intenção de voto. Até os últimos dias tudo pode acontecer.