O Congresso Nacional realiza, no próximo dia 19, o lançamento da campanha “16 Dias de Ativismo pelo Fim da Violência Contra a Mulher”. No dia 5, do mesmo mês de novembro, o jornal Estado de S.Paulo avisou que no Brasil ocorre um estupro a cada 4 minutos.
Duas notícias tão diferentes não foram reunidas na abertura desse texto aleatoriamente e sim para mostrar que a campanha, iniciada em 1991, por iniciativa do Centro de Liderança Global de Mulheres (Center for Women’s Global Leadership – CWGL), com o objetivo de debater e denunciar as várias formas de violência contra as mulheres no mundo, precisa de um reforço efetivo e urgente, aqui no Brasil.
Dados do 8º Anuário Nacional de Segurança Pública, divulgados em 11 de novembro, mostram que o total de mulheres vítimas de estupros no Brasil pote ter chegado a 143 mil casos em 2013 – estarrecedor índice de um estupro a cada quatro minutos! O número é uma projeção, já que os pesquisadores calculam que os 50.320 casos registrados, sejam apenas 35% dos crimes dessa natureza realmente ocorridos.
Somos um país em que 65% das mulheres estupradas sequer registra a violência sofrida, por vergonha; falta de atendimento adequado ou medo de discriminação.
Somos um país em que o estupro está institucionalizado, ou não aconteceria um caso a cada quatro minutos. A banalização do crime mostra que seu combate é, sim, da conta de todos nós. Se a sociedade não se unir contra a violência sexual contra a mulher, debate-la no Congresso dificilmente resolverá o assunto.
Não pretendo, com essa colocação, desmerecer ou diminuir os ciclos de debates como a campanha “16 Dias de Ativismo pelo Fim da Violência Contra a Mulher”, pelo contrário. Sua importância é inquestionável. O que defendo é que a sociedade assuma sua responsabilidade em uma luta que também é dela.
As mães devem ter consciência da necessidade de reforçar em seus filhos uma imagem positiva e merecedora de respeito das mulheres. Os meninos que aprendem desde cedo que “não é não”, e que nada justifica o uso de violência contra uma mulher, dificilmente serão estupradores ou violentos na idade adulta.
As terapias familiares precisam atingir de maneira mais ampla e efetiva os núcleos familiares disfuncionais. Sabemos que crianças vindas de lares violentos e abusivos tendem a reproduzir na vida adulta, comportamentos que vivenciaram na infância. Identificar e dar suporte a essas famílias ajuda a prevenir casos futuros.
As escolas, públicas e privadas, devem urgentemente incluir em sua grade escolar a prevenção à violência. A mesma matéria que informa que o Brasil tem um estupro a cada 4 minutos, mostra que o país registra um homicídio a cada 10.
As últimas notícias mostram um país doente, institucionalmente enfermo; violento; desigual; dilapidado. Precisamos fazer a nossa parte, nos debates, campanhas e congressos; mas também em casa, para começar a mudar essa realidade.
*Solange Jurema é presidente do Secretariado Nacional da Mulher