Não importa quantos foram, o que conta é o sentimento, que permanece o mesmo. Indignação, repúdio e insatisfação em relação ao governo do PT levaram centenas de milhares de pessoas novamente às ruas neste domingo. A marcha da cidadania mantém-se ativa e pulsante.
Os jornais de hoje sustentam que a adesão aos protestos de ontem foi menor que a de um mês atrás. É fato. Mas como menosprezar o sentimento de cerca de 700 mil pessoas que voltaram às ruas depois de terem protagonizado, apenas quatro semanas antes, a apoteose das mobilizações populares em mais de três décadas no país, com 2 milhões de brasileiros?
Se foram menos volumosos, os protestos se disseminaram, contudo. Informa O Globo que o número de cidades onde foram registrados atos aumentou de 147, em 15 de março, para 218 ontem. Alguns dosorganizadores dizem ter registrado manifestações em 452 localidades.
O pessoal do governo deve ter ficado com água na boca. Para eles, pôr 700 mil pessoas na rua hoje, como fazem os movimentos de oposição a Dilma e ao PT, é sonho impossível. Haja vista o que aconteceu na terça-feira passada, quando a CUT e os satélites do PT não conseguiram levar nem 6 mil pessoas para manifestações chapa-branca.
Os brasileiros que ontem não voltaram às ruas provavelmente não mudaram em nada sua opinião sobre o governo da presidente Dilma. A vida cotidiana continua tão – na realidade, mais – difícil quanto um mês atrás. A rejeição e a indignação são as mesmas de um mês atrás.
Segundo pesquisa divulgada pelo Datafolha no sábado, a desaprovação ao governo da petista mantém-se altíssima: 60%. Na ponta de baixo do gráfico, só 13% avaliam a gestão Dilma como ótima ou boa. O quadro é praticamente o mesmo de um mês atrás, quando o instituto fora a campo pela última vez.
O que é novo, porém, é a opinião dos brasileiros sobre a possibilidade de impeachment da presidente. Segundo a mesma pesquisa, 63% consideram que, “com base em tudo o que se sabe até o momento sobre a Operação Lava Jato”, o Congresso deveria abrir processo para afastar a presidente do cargo. Para 57%, Dilma sabia da corrupção na Petrobras e deixou rolar.
Ontem, o governo até tentou ensaiar alguma dignidade, eximindo-se de tentar apequenar as manifestações. Mas não deixou de buscar socializar o prejuízo, dizendo que o alvo dos protestos é a classe política em geral. Não: os alvos da repulsa são Dilma, Lula, o PT e sua forma suja de fazer política. Ou seja, os motivos para manter a marcha da cidadania ativa e operante continuam. Até que o Brasil mude.