Após audiência que durou quase nove horas e ouviu quatro depoentes, deputados do PSDB que integram a CPI da Petrobras afirmaram que o cerco está se fechando contra os que participaram do esquema de corrupção na empresa. Durante as oitivas realizadas nesta terça-feira (28) e comandadas, em parte, pelo deputado Antonio Imbassahy (BA), dois depoentes confirmaram que foram afastados dos cargos que ocupavam na estatal por terem alertado para possíveis práticas que dariam margem a irregularidades.
O ex-integrante do Comitê de Auditoria da Petrobras Mauro Cunha disse aos parlamentares que os R$ 6 bilhões de prejuízo por corrupção que a empresa apontou em seu balanço podem ser inferiores à realidade. A afirmação foi feita em resposta ao deputado Izalci (DF). Cunha disse que o valor é inapropriado e chegou a afirmar que pode ser ainda maior. Ele alegou que foi afastado do Comitê de Auditoria da estatal justamente porque não aprovou o balanço da empresa.
Sistemas de controle falharam – Ainda segundo ele, determinados parâmetros poderiam ser usados pelo Conselho de Administração com maior controle para que irregularidades não ocorressem. “Alguns canais não estariam funcionando devidamente”, disse. Na avaliação dele, o sistema de controle interno da Petrobras falhou e não identificou atos de corrupção, o que foi motivado por erros de gestão e atos irregulares de diretores.
Depois de ser questionado pelo deputado Bruno Covas (SP) se havia percebido ou suspeitado de corrupção na empresa, o depoente disse que estranhou os valores envolvidos na construção da Refinaria Abreu e Lima, pois superavam muito todas as métricas internacionais. Segundo ele, a corrupção teria sido uma consequência desse problema. Cunha relatou ainda ter solicitado a criação de uma comissão interna para apurar os custos da refinaria.
Mais cedo, o ex-gerente jurídico da Petrobras Fernando de Castro Sá havia afirmado que sofreu pressões e foi perseguido internamente por não concordar com pareceres jurídicos elaborados para contratação de empresas pela Diretoria de Abastecimento, na época comandada por Paulo Roberto Costa. Isso o levou a ter o salário cortado, ser tirado do cargo e “instalado em uma baia, numa sala fechada, sem limpeza e sem computador”.Vice-presidente do colegiado, Imbassahy ressaltou afirmação de Sá de que a empresa sofreu um “crime de lesa pátria”, ao apontar grandes irregularidades nos contratos da Refinaria Abreu e Lima, além de suspeitas em pagamentos de serviços não realizados.
Não sabiam de nada – Os tucanos chamaram atenção, ainda, para o fato de mais uma vez integrantes de importantes postos na companhia alegarem que desconheciam a existência de práticas ilícitas, como ocorreu nos outros dois depoimentos.
Ao ex-presidente do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj) Nilo Carvalho Vieira, o deputado Delegado Waldir (GO)questionou se o resumo da ópera é que a Petroquímica – parte do Comperj – não gerou nada para o Brasil. O ex-presidente do complexo disse que não e Waldir resumiu: “É isso Brasil, dinheiro jogado fora!”.
Na avaliação do deputado Otavio Leite (RJ), o Comperj– que está com as obras paralisadas – só geraria resultados se todos os projetos estivessem concomitantemente funcionando. Ele lembrou que houve festa de lançamento da pedra fundamental do empreendimento em 2009, mas tudo não passava de uma megalomania do então presidente Lula. “Sou forçado a asseverar e indagar que se tivessem feito por etapa, a refinaria já estaria pronta. Não houve uma megalomania?”, perguntou.
Quarto a depor na CPI nesta terça-feira, o ex-gerente do complexo Jansen Ferreira da Silva confirmou ser amigo de Renato Duque (ex-diretor de Serviços) desde 1984, mas afirmou ao deputado Izalci que nunca soube das praticas ilícitas praticadas por ele. Foi Duque, porém, quem indicou Jansen para o cargo que ocupava na petroleira. O parlamentar tucano lembrou que Duque foi nomeado para a Diretoria de Serviços por indicação política do ex-ministro e mensaleiro José Dirceu para colaborar com um projeto de poder pelo poder e que, lá estando, Duque colocou em cargos estratégicos aqueles em quem confiava.
“Houve muita mudança no Comperj. Como disse a própria Graça Foster, não havia projeto básico e nem planejamento. Foi tudo feito em cima de coisas que mudavam constantemente. Incompetência e corrupção deram nisso: bilhões sendo jogados no lixo”, destacou Izalci. Para ele, tanto Jansen quanto Nilo Vieira não teriam ocupado os cargos de presidente e gerente do Comperj se não soubessem, pelo menos em parte, do que vinha acontecendo na estatal.
Do PSDB na Câmara