Os brasileiros fizeram bonito neste domingo. De forma pacífica, em centenas de municípios, milhões de pessoas de todas as idades ocuparam as ruas do Brasil para protestar contra o governo e pedir uma solução para a crise em que fomos — e estamos — mergulhados. O grito que ecoou das multidões foi incontestável: basta, não suportamos mais.
Homens e mulheres, famílias inteiras, jovens, idosos e crianças, gente de todas as raças e credos, de cabeça erguida, se irmanaram no sentimento de revolta e indignação contra um governo que esgotou sua capacidade de iludir e mentir. Não dá mais para enganar ninguém: além do fracasso na gestão, há um fracasso ético e moral que arruinou o projeto de poder em curso. É contra este estado de coisas que o Brasil foi às ruas.
Foi uma manifestação de consciência cívica como poucas já vistas no país. É impossível ficar insensível ao grito uníssono contra a corrupção e a gestão calamitosa, contra a mentira e a favor do trabalho independente das instituições brasileiras. Em defesa da democracia e das conquistas que tanto nos custaram em sacrifício e luta.
No momento em que o discurso do radicalismo e da intolerância ameaça conturbar o ambiente social, como óbvia reação aos resultados das investigações da Lava Jato e outras operações policiais em curso, os manifestantes de domingo deram um exemplo de serenidade, maturidade e responsabilidade. Indignação sim, violência nunca.
Precisamos aprender com a mobilização gigante e seguir adiante em busca de saídas para a crise. As vozes de março nos colocam diante de um imperativo histórico: a nação precisa construir uma solução para o impasse em que se encontra. Reencontrar o caminho da confiança e da esperança.
Mais que nunca, o Congresso Nacional tem o dever de dar ressonância a este clamor. A classe política precisa cumprir com responsabilidade seu papel. Neste mar de insatisfações, precisamos ir além de denunciar, criticar e cobrar. Precisamos transformar.
Vivemos um momento único, fértil e de grande convergência em torno de um sentimento de país, que, em plano ampliado, já significa um precioso recomeço. O país que floresce das ruas não pode se perder. Ele precisa nos conduzir adiante.
Não basta encerrar o regime dos escândalos em série e da corrupção institucionalizada. Estão à espera do Brasil desafios de grande envergadura, que demandarão reformas profundas no plano político, econômico, ético, social e do modelo de gestão pública.
É hora de estarmos à altura desse sentimento nacional que clama por mudanças. Com ele – e só com ele – será possível reduzir drasticamente o abismo existente entre a realidade e o sonho dos brasileiros e o país que queremos e merecemos.