Quando falamos sobre o dia 13 de maio, Dia da Abolição da Escravatura, fico com um nó na garganta. Não sou adepto das comparações, mas ao observarmos, por exemplo, a abolição dos escravos americanos e principalmente as conquistas que sucederam este feito, digo que é vexatória a nossa abolição.
Uma abolição inacabada que trouxe graves consequências para a sociedade brasileira, em especial para os negros, que, apesar de trabalharem nesta terra há 500 anos, lutam até hoje por direitos básicos que lhes foram negados antes, durante e depois da tragédia da escravidão.
Como disse o geógrafo e escritor Milton Santos: “A escravidão marcou o território, marcou os espíritos e marca ainda hoje as relações sociais deste país”. Falar dos absurdos ocorridos durante o período escravocrata seria mais do mesmo. No entanto, observar e refletir sobre os 128 anos em que este regime foi extinto, isso sim se faz mais do que necessário na luta perante o que pretendemos alcançar.
Maioria da população brasileira. Sim, somos um país de diáspora, onde os números em relação à população negra só são expressivos em questões desfavoráveis. Os mais acometidos pela evasão escolar, os que recebem os menores salários, os que ocupam em maior número o sistema carcerário… isso só para citar alguns índices.
Mas para que de uma vez por todas possamos entender a disparidade entre brancos e negros em nosso país tomemos como ponto de observação o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), onde nosso país ocupa entre a 69ª e 78ª posição quando contabilizados todos os brasileiros. Porém, quando isolamos as etnias e consideramos apenas os brancos subimos para a 38ª posição. Ao contrário, se considerarmos os negros passamos para a 110ª posição. Ou seja, de forma contundente percebemos que os negros ainda são vítimas de uma abolição que não nos impulsionou ou favoreceu em nenhum momento da história de nosso país.
Ações afirmativas ganham contornos pejorativos quanto dizem respeito ao negro, mas não foram questionadas quando implementadas para ajudar outros grupos de imigrantes que, apesar de adentrarem o país em situação precária, aqui se estabeleceram, mudaram suas vidas e de seus familiares e adquiriram fortunas.
Clamo que haja uma nova reflexão sobre este fato histórico e que se inicie uma nova era de correção desta barbárie. Queremos atitude afirmativa imediata para reparar a história da Comunidade Negra no Brasil e concluir o processo de Abolição de fato, garantindo oportunidades iguais em todos os setores da sociedade.
No artigo “As Cidadanias Mutiladas”, Milton Santos sabiamente disse: “Pedir aos negros que aceitem o discurso oficial e esperem tranquilos a evolução normal da sociedade é condená-los a esperar outro século”. Eu complemento reforçando que não podemos mais esperar.
Ivan Renato de Lima é presidente do Conselho de Participação e Desenvolvimento da Comunidade Negra do Estado de São Paulo