Início Bancada Em CPI, empresária se recusa a esclarecer pagamentos ao filho de Lula

Em CPI, empresária se recusa a esclarecer pagamentos ao filho de Lula

A empresária Cristina Mautoni, sócia da empresa de consultoria Marcondes e Mautoni Empreendimentos e Diplomacia Corporativa, usou o direito constitucional de não se autoincriminar e permaneceu calada durante quase duas horas de interrogatório em audiência da CPI do Carf. Ela não quis responder, por exemplo, os repasses milionários para uma empresa de marketing esportivo de Luís Cláudio Lula da Silva, filho do ex-presidente Lula.

Cristina é esposa de Mauro Marcondes Machado, ex-diretor da Associação Nacional de Fabricantes de Veículos (Anfavea). Há um mês os dois foram condenados pelo juiz Vallisney de Souza Oliveira, da 10ª Vara Federal, por envolvimento em esquema de compra de medidas provisórias (MPs) que beneficiaram as empresas do setor automobilístico MMC Automotores (fabricante Mitsubishi) e o Grupo Caoa (que monta veículos Hyundai).

Segundo a denúncia do Ministério Público, a partir de investigações da Operação Zelotes, da Polícia Federal, as empresas pagaram R$ 32 milhões para agentes públicos, por intermédio do casal, em troca da aprovação de MPs que prorrogaram incentivos fiscais a indústrias automotivas instaladas nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste.

Cristina foi condenada a seis anos e cinco meses de reclusão, em regime semiaberto, por associação criminosa e lavagem de dinheiro. Marcondes, por sua vez, recebeu pena de 11 anos e 8 meses de prisão, inicialmente em regime fechado, por associação criminosa, corrupção ativa e lavagem de dinheiro.

Marcondes já compareceu à CPI, mas se recusou a responder as perguntas dos deputados. Assim como o marido, Cristina compareceu à CPI amparada por um habeas corpus que deu a ela o direito de permanecer calada. Em depoimento à Polícia Federal, ela alegou não saber dos motivos dos pagamentos de R$ 80 milhões à empresa dela.

Ao investigar Mauro Marcondes e Cristina Mautoni, a polícia havia descoberto pagamentos de R$ 2,5 milhões do escritório deles para uma empresa de marketing esportivo do filho de Lula. Após a quebra de sigilo bancário, descobriu-se que o valor real era de R$ 4 milhões. A empresa de Luís Cláudio não tem funcionários registrados, apesar dos valores milionários, nem ele expertise em consultoria. O trabalho para a Mautoni se baseou em uma cópia de informações disponíveis na internet.

“Como a senhora explica pagamentos a Luís Cláudio Lula da Silva?”, perguntou o deputado Izalci (DF). “Vou permanecer calada”, respondeu Cristina.  “Ela poderia contribuir muito, mas não está usando a oportunidade dada pela CPI”, lamentou o tucano. Ele lembrou que a filha do caso, menor de idade, foi colocada como sócia a empresa. O tucano considerou irresponsável usar a própria filha em “maracutaia” . Eduardo Cury (SP), por sua vez, lembrou que a Marcondes e Mautoni participou de todas as etapas de transações de valores expressivos e foram repassados milhões para “gente sem qualificação”.

A reunião da CPI foi encerrada em função do silêncio da depoente e devido à falta de quórum para votar requerimentos de convocação, como os do próprio Luis Cláudio, assinado por tucanos.

(Da redação com Agência Câmara/foto: Antonio Cruz/Agência Brasil)

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