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*Ney Vilela
O Brasil é o terceiro produtor de calçados do mundo, com 800 milhões de pares por ano. A Índia, em segundo lugar, produz 900 milhões sem atrapalhar as exportações brasileiras, pois lá existem um bilhão e duzentos milhões de pares de pé para serem calçados…
O problema é a China, primeiro produtor mundial, com nove bilhões de pares/ano: por meio de dumping, os chineses promovem concorrência desleal aos calçados brasileiros em todos os recantos do planeta. E, por conta da ineficiência do governo brasileiro, a ação de dumping ocorre até dentro de nossas fronteiras.
Desde 2008 as entidades calçadistas tentam evitar a entrada abusiva dos calçados chineses no Brasil. Essas entidades entraram com um processo para barrar as importações criminosas. Mas o governo brasileiro demorou 18 meses para agir. A lerdeza governamental deu tempo para que os asiáticos e importadores pensarem como agiriam após a implantação da taxação defensiva. Pouco tempo após a aprovação do antidumping, os números já mostravam que a China (para burlar os impostos) passou a utilizar países que nunca foram fabricantes de calçados, infiltrando por triangulação seus produtos no mercado brasileiro.
Os dados apresentados pelas entidades calçadistas indicam que a China, em 2010, exportou 7,3 milhões de pares para o Brasil. E o ministério das exportações, da China, indica que 24 milhões de pares foram endereçados ao Brasil, a questão é: onde estão os 17 milhões dessa diferença? Resposta: além da China, países como Vietnã, Malásia, Hong Kong, Taiwan e Indonésia, exportam calçados para o Brasil. O curioso é que as estatísticas desses países não fazem referência a essas exportações…
As entidades calçadistas tentam frear a malandragem chinesa, mas a Receita Federal tem dificultado a defesa dos interesses brasileiros, sonegando informações. Na prática, o governo federal está destruindo o parque industrial calçadista e está incentivando nossos empresários a migrar suas empresas para a República Dominicana e Nicarágua.
O setor calçadista responde por 300 mil empregos diretos. E esses empregos estão claramente ameaçados, seja pela leniência em se reagir ao dumping chinês, seja pela generosidade governamental em exportar nossos empregos para que o governo corrupto e demagógico da Nicarágua escape ao colapso econômico.
O que mais assusta é a constatação de que essa situação aterrorizante não ocorre apenas no setor calçadista nacional, é de praticamente toda a nossa atividade manufatureira. O que o governo petista, dos banqueiros, faz em relação ao problema? Claro, eleva as taxas de juros SELIC, aumentando os lucros dos grandes bancos e impedindo nossos industriais de se capitalizar para investir.
Enquanto isso, o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel, critica a margem de lucro das siderúrgicas brasileiras, considerando-as abusivas. Do que o ministro gosta? É de ver nossos empresários industriais falindo; lucro é só para os banqueiros.
* Coordenador do Instituo Regional Teotônio Vilela