Por Miguel Haddad
As pessoas se acostumam com a repetição cotidiana de uma mesma paisagem e, por causa disso, se desinteressam por ela, como se a mente criasse uma espécie de calo, que elimina a sensibilidade para o que é visto rotineiramente e há muito deixou de ser novidade.
A sucessão de escândalos envolvendo praticamente todos os partidos políticos parece que está causando esse mesmo efeito junto às pessoas. Não podemos esquecer que essa série de denúncias e de revelações dos esquemas bilionários de desvio do dinheiro público somente se manteve e conseguiu atingir figuras poderosas que ninguém jamais pensou que seriam denunciadas – quem diria sentenciadas e presas – por causa das grandes manifestações populares, que levaram às ruas milhões e milhões de brasileiros, nos quatro cantos do País.
Foi graças a esse suporte dado pelo povo que as investigações prosseguiram, atingindo a cúpula, que sempre se imaginou intocável e fez o que fez porque estava segura da sua impunidade.
No entanto, o que se observa é que o volume brutal de denúncias, além dos personagens envolvidos – que se sucedem diariamente, cada um maior do que o outro -, anestesiam as pessoas e terminam por enfraquecer o ânimo participativo, elemento essencial para prosseguirmos com esse calvário que, ao final, nos traz a esperança de um País melhor.
Não se pode dizer que não falta muito. Falta. E que a economia logo dará a volta por cima, trazendo com isso o emprego. De fato, temos tido sinais animadores de que não estamos mais no fundo do poço, mas daí até uma economia dinâmica, que nos gere um número de empregos capaz de melhorar os salários, levará algum tempo.
Quanto tempo isso levará ninguém pode, honestamente, precisar. Mas uma coisa é certa: sem a vigilância ativa da população, sem a participação dos homens e mulheres conscientes de que esse é o caminho para mudar o Brasil, o que está indo aos trancos e barrancos poderá perder força e sofrer as consequências das manipulações que não servem ao interesse do povo brasileiro.
Não será este ou aquele partido, esta ou aquela liderança, nem um salvador da pátria de esquerda ou de direita que irá mudar o Brasil. Sem a participação decidida das pessoas, as mudanças ficarão, sempre, aquém do necessário.
Miguel Haddad é deputado federal