Início Artigos Às mulheres negras tudo!

Às mulheres negras tudo!

Por Juvenal Juvêncio

Hoje, 25 de julho, nós do Tucanafro queremos celebrar o dia internacional da mulher negra Latino-Americana e Caribenha, resgatando a saudosa memória de Laudelina de Campos Melo.

Laudelina, mulher, negra, latino-americana e mineira, aos sete anos de idade já trabalhava com empregada doméstica. Seu precoce engajamento cultural a levou, em sua adolescência — precisamente aos 16 anos — à presidência do Clube 13 de Maio, agremiação que articulava atividades política e recreativas para os negros de sua cidade, Poços de Caldas, em Minas Gerais.

Laudelina atingiu sua maior idade e, aos 18 anos, mudou-se para São Paulo. Conheceu aquele que viria a ser seu esposo, casou-se e se mudou para Santos. Juntamente com seu marido, participava da agremiação Saudade de Campinas, grupo cultural negro de Santos.

Separou-se e, mesmo com seus dois filhos, iniciou sua militância nos movimentos populares. Em 1936, fundou a primeira Associação de Trabalhadores Domésticos do Brasil. Aliás, o primeiro de muitos sindicatos que viriam a organizar ao longo da sua vida.

Paralelamente a sua atuação na Associação de Trabalhadores Domésticos, Laudelina também militou na Frente Negra Brasileira, tida como a maior associação da história do movimento negro brasileiro. Estima-se que a Frente Negra Brasileira teve mais 30 mil filiados.

Em 1955 ela se mudou para Campinas. Lá, entrou para o movimento negro da cidade e passou a integrar as atividades culturais e sociais, destacadamente o Teatro Experimental do Negro (TEN), cujas ações visavam elevar a autoestima e a confiança da juventude negra a partir das artes cênicas.

Tudo isso conciliando sua condição de mãe e empregada doméstica.

Em 1954, entretanto, mudou de profissão. Abriu uma pensão e passou a vender salgados nos campos de futebol. Dona do seu próprio negócio, passou a dedicar integralmente à sua militância.

Essa mulher, negra e latino-americana foi determinante para que as empregadas domésticas conseguissem, na década de 1970, conquistar o direito à carteira assinada.

Lembrar seu exemplo de coragem e superação, hoje, nos traz uma reflexão mais positiva e motivadora que o lamento sobre os números e estatísticas que afligem nossas Ialôdes, que precisam ser, todos os dias, duas vezes mais mães, mais profissionais e mais mulheres que as demais.

Às mulheres negras tudo!

Juvenal Araújo é presidente nacional do Tucanafro e titular da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir)

Artigo anteriorMercosul forte ajuda o Brasil a recuperar renda, diz Silvio Torres
Próximo artigoSó a educação liberta