Por Aurélio Nomura
Platão dizia que os sofistas não eram filósofos ao pé da letra porque, apesar de seus argumentos parecerem lógicos e sofisticados, eles no fundo mascaravam as mentiras com uma aparência convincente de verdade.
Caro leitor, não estranhe se você, à primeira vista, entender que muitos dos atores políticos possam, nos tempos modernos, ser qualificados como “sofistas”.
A mentira ou a pós-verdade, afinal, têm se tornado parte do repertório de muitos deles nestes tempos sombrios. Não tem sido diferente com o urbanista e ex-vereador pelo PT Nabil Bonduki, que já de algum tempo faz parte do rol de colunistas fixos desta Folha.
Político que carrega a imagem do intelectual sofisticado, Bonduki virou um Chacrinha das palavras, pois faz de seu letramento uma arma usada mais para confundir do que explicar. Nunca, frise-se, em nome da verdade.
Na terça-feira passada (12), porém, Bonduki passou dos limites. Diferentemente dos filósofos gregos que usavam os sofismas e seu relativismo com certo charme especulativo, o ex-vereador do PT descambou para a mentira.
De sofista a mitômano, usando de demagogia, quis fazer colar no prefeito João Doria (PSDB) a responsabilidade pelas mortes no trânsito.
Obviamente, como todo sofista, fê-lo de maneira sub-reptícia. Usou, para tanto, um estelionato semântico ao dizer que o mote de campanha de Doria – “Acelera SP” – estimula a velocidade no trânsito e, por consequência, todas as mortes havidas em 2016.
Todos os cidadãos paulistanos sabem -inclusive os 53% que elegeram Doria em primeiro turno- que o termo “acelera” foi empregado no sentido conotativo, algo que aprendemos desde o ginásio; estava lá, desde o início da campanha, como metáfora.
Isto é, o “acelerar” era, no discurso, a vontade do povo paulistano de aumentar a velocidade de desenvolvimento paulista, principalmente no combate à lentidão burocrática que tisnou a gestão do petista Fernando Haddad, de quem Bonduki foi secretário.
O discurso foi tão bem aceito e entendido que Doria foi eleito e Haddad, derrotado.
Em leitura mais ampla, o “acelerar” é a chave do antipetismo, porque remete contra tudo o que representa o burocratismo e a apropriação do público pelo privado que caracterizaram os governos petistas no âmbito local e no nível nacional.
Frente a uma corrupção desenfreada do petróleo e aos buracos orçamentários de mais de R$ 7 bilhões deixados pela gestão Haddad, era preciso acelerar para consertar. O “acelerar” é a mudança.
Mas Bonduki jamais voltou os olhos à verdade, nem para os “buracos” de Haddad -os milhões no asfalto das ruas e os bilhões do orçamento- nem para a corrupção inequívoca dos próceres de seu partido. Bonduki camufla, como dizia o humorista antigo.
Ele prefere enganar os (e)leitores com textos melífluos e argumentos falsos como os da defesa de Lula e Dilma nos processos da Lava Jato.
Seus artigos são, para a verdade dos fatos, como o canto da sereia aos navegadores. Bonduki obnubila, faz fumaça. Bonduki mente.
Esperamos, com sinceridade, que ele continue a usar sua pena. É um favor à história que gente como Bonduki continue a escrever. Parodiando vulgarmente Marx -aliás, como sempre fazem alguns petistas- Bonduki e sua turma sempre se repetem, e como farsa. Nossa missão é desmascará-los.
AURÉLIO NOMURA é vereador pelo PSDB e líder do governo na Câmara Municipal de São Paulo