*Ricardo Buso
Em face das sucessivas turbulências nos mercados internacionais, podemos, definitivamente, assumir que a forma de entender a dinâmica econômica já não é mais a mesma há alguns anos. Com a sofisticação tomada pelos diversos instrumentos financeiros, como derivativos, por exemplo, podemos verificar que seu atual “metabolismo” é muito mais acelerado que em outros tempos.
Com isso, presenciamos movimentos cíclicos bastante severos, extremistas e alongados. Anos de bonança e prosperidade acabam sendo “devolvidos” em alguns meses de grave turbulência, adicionando muitas incertezas ao cenário econômico, que, em muitos momentos, apresenta a conta da prosperidade anterior não necessariamente a quem se aproveitou dela.
Hoje vivemos um cenário de crise das economias desenvolvidas (principalmente da Europa, com problemas fiscais, e EUA com problemas político-econômicos) advindo justamente de respingos da grande crise anterior, 2008/2009, que já parecia dar sinais de recuperação. Tal crise não isenta nenhum país de conseqüências nos próximos anos.
E tal sucessão de incertezas acaba agitando demasiadamente os mercados financeiros, em geral, originando um verdadeiro “cassino internacional”, ao qual o Brasil não hesitou em aderir quase que plenamente, talvez até para não frustrar anseios externos.
Ainda se o tal “cassino” envolvesse apenas os agentes financeiros, que sabem (ou deveriam saber) dimensionar riscos para ganhar com isso, estaria tudo bem. Porém, deliberadamente, o risco da jogatina tem se alastrado a mercados que deveriam contar com certa blindagem aos movimentos bruscos, como, principalmente, a produção de alimentos, que têm aceito os desafios de prontamente acolher os investimentos que fogem do risco das dívidas soberanas mundo afora.
Isso friamente expõe a camada da população socialmente mais vulnerável ao vai-vem dos preços de alimentos, causando uma insegurança mais que injusta.
Infelizmente, desafios dessa magnitude não se resolvem em poucos meses, à base de canetadas ou megalomanias publicitárias. A resposta ao atual problema deveria ter sido pensada há muitos anos, vez que passaria por alternativas estratégicas, respeitando princípios (como o do próprio mercado, por exemplo), provendo crédito eficiente e a justo preço, trabalhando decentemente agricultura e estoques reguladores, além de bem empregar o dinheiro público nas verdadeiras carências do país.
Nesse sentido, entendo que ideais sociais democratas, que não buscam solavancos de “reinvenções da roda”, que conjugam a liberdade do capitalismo com a assistência pública do socialismo e que focam as mudanças sustentáveis e perenes, precisam, mais que nunca, estar presentes no combate ao crescente risco econômico em curso.
Como exemplo desse raciocínio social-democrata, podemos mencionar o PROER, programa do Governo Federal, capitaneado pelo Presidente Fernando Henrique Cardoso, que, em 1995, trouxe saneamento ao Sistema Financeiro Nacional, que hoje é reconhecido como um dos mais seguros do mundo. À época sob implacável crítica da oposição, a ideologia Social-Democrata desprendeu-se do populismo barato para manter-se fiel aos seus princípios de sustentabilidade.
Mais de uma década depois, o caráter indispensável e sustentável de tal programa foi amplamente aclamado, no cenário de uma das maiores crises internacionais da história, deflagrada justamente pela fragilidade do Sistema Financeiro Internacional.
Portanto, ainda que desprovidos da “caneta executiva”, mesmo que na oposição, aos envolvidos na ideologia da Social Democracia Brasileira a autoridade no assunto está praticamente conquistada, cabendo a estes a obrigação de assistir o país nesse momento de grandes mudanças.
