Início Artigos A alta temperatura do debate econômico

A alta temperatura do debate econômico

A elevação na temperatura do debate econômico tem o mérito de trazer para as manchetes questões que, embora afetem a vida das pessoas diretamente, não costumam atrair a atenção do cidadão comum.

A irritação do governo com as críticas, bem como a estratégia de colar estereótipos nos adversários, estabelecendo uma diferença irredutível entre um “nós” hipotético e um “eles” deformado, podem até ter algum apelo eleitoral momentâneo.

Mas até onde vai a eficácia deste discurso num governo de continuidade, com ampla maioria congressual e com a oposição premida pelo enorme rol de aliados do poder executivo?

Tancredo Neves tinha uma máxima segundo a qual são as ideias que brigam, e não os homens. No caso da energia, por exemplo, o que há de errado em sugerir a redução no PIS/Cofins que incide sobre a conta de luz, ao invés da utilização de mais de R$ 8 bilhões do Tesouro Nacional?

A arrecadação em 2012 ultrapassou R$ 1 trilhão. Ao fim e ao cabo, parte da conta vai ser paga com o dinheiro do próprio contribuinte, enquanto o setor elétrico brasileiro continua brutalmente onerado por impostos.

Não é preciso ser da oposição e nem torcer contra para ver que há algo de errado numa busca pela competitividade que ignora o sobrepeso dos tributos.

O mesmo ocorre em relação à inflação. O governo esperava contrabalancear com a conta de luz o aumento da gasolina, cuja política de preços artificiais represou forte pressão inflacionária.

Depois de fazer a maior captação da história do mercado financeiro, a Petrobras passou de vedete a líder em perdas de valor de mercado. Os prejuízos bilionários com o setor de abastecimento certamente afetarão o balanço da companhia, gerando mais desconfiança e desvalorização.

Como a manobra não deve ser suficiente para segurar a inflação, o Banco Central começou a valorizar o câmbio, o que ajuda a segurar os preços, mas afeta a competitividade das exportações.

Em meio a todo esse desarranjo macroeconômico, com o qual a oposição não tem nada a ver, saem os dados do Ministério da Fazenda sobre os gastos públicos em 2012. Se já não bastasse o descumprimento das metas fiscais mesmo com a contabilidade criativa – que vai no sentido oposto à austeridade e à transparência tão duramente conquistadas com o Plano Real -, os gastos públicos cresceram 11% no ano passado, ultrapassando R$ 800 bilhões. Só com o custeio da máquina, o crescimento foi de 16,3%.

Os números estão aí, são do próprio governo. Não há manipulação ou enviesamento político neles.

A politização do debate econômico, num momento em que os fundamentos da economia não são dos melhores, é um erro estratégico.

Quanto mais se polemiza, mais agudo torna-se o foco sobre o problema. Não é preciso ser um cientista político para saber que quem mais tem a perder com a antecipação do desgaste são os detentores do poder.

De nada adianta apontar culpados. Ainda restam dois anos de mandato. Há muito trabalho pela frente.

Artigo anteriorRetração industrial manda recado ao Planalto
Próximo artigoAloysio Nunes