José Aníbal*
O papel histórico do PSDB na sociedade brasileira é o de qualificar o debate político, e não o contrário. Quando ouço cobranças por uma nova agenda para o Brasil, concordo com os que defendem uma revitalização do PSDB – desde que isto signifique um mergulho em nós mesmos, na mais exata aproximação com a ideia que construiu este partido.
Foi pela capacidade de pensar o país que chegamos, enquanto partido, tão jovens ao poder. O PSDB tinha apenas seis anos em 1994 e, no entanto, aquele seu programa está aí, consensual, defendido por nossos adversários.
É hora de deixar de lado a grita de nossos continuadores e pensar o futuro. Ninguém mais fala em crescer com um pouquinho de inflação. O governo atual faz ajuste fiscal. O BC é independente. O sistema financeiro é sólido. O país cresce. Os brasileiros vivem bem melhor hoje do que há 20 anos. Nós vencemos.
O Brasil é a Nação mais dinâmica do mundo. É hora de tirar proveito das vantagens comparativas, de nossa formação cultural. É hora de mudar o patamar de nossas aspirações.
A luta agora é para fazer um país mais promissor na qualidade dos serviços públicos. Forçar o Estado a ser eficiente, e fazê-lo indenizar as vítimas do analfabetismo. Se não for capaz de derrotá-lo – uma Lei de Responsabilidade Social que obrigue o Estado a arcar com a sua ineficácia. Ele é caro demais para ser ruim.
É preciso ter metas sérias – como dobrar as vagas para engenharia e biologia. É obrigatório aumentar a oferta de eletricidade limpando a matriz energética. Somos destinados a vender ao mundo soluções em sustentabilidade.
Já passou da hora de fazer valer nossas cláusulas pétreas, como a construção da paz e o fortalecimento da democracia. E abandonar este devaneio do protagonismo na cena internacional: uma associação com regimes autoritários e cleptocratas como forma de abrir mercados. Uma Política Externa digna da hiena.
O Estado deve democratizar a informação ao povo, e não democratizar seu acesso à propaganda. Deve achar soluções legais para privilégios, e enfrentá-los. Valorizar a competência, fazendo dos servidores a fortuna do Estado, e não o contrário. Eles farão a próxima revolução brasileira.
É preciso acabar com a miséria, e já nos prepararmos para o fim da ignorância. Colocar a assistência social para ser planejada pelos usuários, sobretudo as mães. E criar um plano nacional de urbanização de favelas.
Direitos civis que protejam escolhas privadas, metas de eficiência e penalidades para o transporte público de baixa qualidade, criar uma justiça exemplar: é preciso botar tudo no papel.
Sem esquecer, claro, de enfrentar os gargalos políticos, que dão sobrevida a hábitos que não servem mais. Precisamos de governos eficazes, e não dos eficazes em simpatia e alienação.
Em suma, ao PSDB é hora de elaborar os consensos dos próximos 20 anos. Uma agenda para o futuro, de uso geral, como a anterior. Por isso, a união do partido é inevitável.
Propus à bancada tucana na Câmara uma Conferência do PSDB para maio, a ser conduzida por Fernando Henrique. Ouvi de diversos companheiros a mesma resposta: já não era sem tempo.
Aos líderes, militantes e amigos, é hora de dar voz à inquietação de todos. E também de trazer novos talentos e competências, apartidários ou de outras siglas, e ouvi-los – sobretudo a juventude. Ao PSDB, é hora de manter a nossa média: estar pelo menos 10 anos à frente deles.
José Aníbal é economista, deputado federal e ex-presidente nacional do PSDB. Atualmente, é Secretário de Energia do estado de São Paulo