Na última sexta-feira, por volta de 20h30, o operário Marco Aurélio Savoviski, de 31 anos, voltava de bicicleta da casa dos pais, em Campina Grande do Sul, na região metropolitana de Curitiba, depois de trabalhar o dia inteiro na construção de uma casa nova para a família. Num trecho urbano da BR-116, Marco Aurélio foi atropelado e morreu.
Em alta velocidade, o motorista atingiu o ciclista e fugiu por cerca de 6 km com o corpo da vítima atravessado ao para-brisa.
Perseguido e cercado por outros motoristas, o atropelador quase foi linchado. O bafômetro da Polícia Rodoviária registrou o nível máximo de embriaguez.
Essas impiedades seguem se repetindo no Brasil. Quando se fala em crime e violência, vários fatores ajudam a explicar a realidade.
Certamente contribuem para isso uma série de injustiças e truculências. Mas nada explica os atos de frieza extrema que temos observado.
Das decapitações no presídio de Pedrinhas ao atropelamento de Marco Aurélio Savoviski, sem esquecer a menina Ana Clara, vitimada por uma vilania inominável, o desprezo pela integridade humana do outro tem características perversas.
Se a criminalidade é ruptura social, a crueldade indiferente é o rompimento de qualquer identificação com a humanidade do outro.
Toda morte violenta é chocante e sem reparação. Mas aqui lidamos com outro grau de desvio: a impiedade fortuita, sem rosto e sem significado.
Não sei se essa banalização da crueldade é própria do Brasil, se é traço cultural ou uma marca da época. Não sei se o indivíduo pode controla-la, ou o que a desperta.
A violência tem muitas causas e responsáveis, mas a crueldade é uma escolha do indivíduo. Daí a perplexidade.
Seja como for, os poderes públicos precisam se articular com mais interesse e energia pela diminuição dos eventos violentos.
Falta senso de prioridade e decisão, mas também um comprometimento real com a paz. Vitimada pelo crime, a própria sociedade precisa aprender a ser mais fraterna e solidária.